sábado, 8 de novembro de 2014

FIM QUE É COMEÇO

Finados foca vida! Pelo menos do ponto de vista cristão. A dura e indigesta realidade da morte intriga a alma humana. Um olhar, mesmo superficial, sobre as várias culturas, inclusive as primitivas, revela quanto esta realidade está presente na vida das pessoas e ocupa seu pensamento. O ser humano sempre procurou descobrir se há algum significado nesta sinistra realidade. Em resumo, o Homem não se conforma com a realidade da morte. O contato constante com a natureza induziu as primitivas culturas a compreender que a morte das espécies sempre resulta em vida posterior mais abundante. O consumo de uma fruta favorece a multiplicação das sementes. A caça entre os animais assegurava a sobrevivência das espécies mais robustas. Se em todas as espécies a morte é geradora de uma existência mais abundante, pela lógica, fica legítimo inferir que assim também deve acontecer com a raça humana. Elaboravam-se teses e doutrinas variadas expondo o que se imaginava ser a continuação da vida após a morte. De uma forma progressiva, firma-se o conceito da prolongação da vida após a morte física. Ao distanciar-se da terra, o raciocínio humano ficou mais abstrato e, curiosamente, intensificaram-se as dúvidas a cerca da vida após a morte. Hoje, cientistas de destaque, em especial na área da neurociência, descrêem enfaticamente na possibilidade da vida após a morte. Baseados em suas experiências científicas rechaçam categoricamente qualquer possibilidade da imortalidade da alma humana. Essas teses provocam, compreensivelmente, desdobramentos no pensamento e na conduta das pessoas. Se finda com a morte, a vida tem que ser aproveitada ao máximo, sem nenhuma preocupação com a ética e a justiça. Progride quem é mais forte. Ou mais esperto. Atraente e amplamente seguida, esta maneira de pensar e de viver tem sido a causa de notórias confusões e sérios conflitos entre cidadãos. Não obstante, persiste o inato impulso em direção à vida. Somente de uma forma excepcional, o ser humano opta por encurtar deliberadamente a vida. A inclinação natural é querer preservar e esticar o mais que se pode a existência. A inevitabilidade da morte persiste, teimosa! Resultam desta certeza as dúvidas existenciais que tanto atormentam a alma humana. Pois por mais qualificados que sejam seus argumentos e suas experiências, os neurocientistas não conseguem aniquilar o anelo pela vida. Indicação clara que a alma exige uma resposta alternativa. A fé religiosa oferece esta outra perspectiva, complementar, inclusive, à experiência da natureza, tão familiar às culturas primitivas. Pela fé crê-se que não existe morte definitiva, especialmente com relação ao ser humano. Constituído de elementos materiais e espirituais, o ser humano corporalmente morre e se decompõe, mas o seu lado espiritual subsiste. A alma é imortal. A liturgia cristã, numa fórmula precisa, bela e poética, externa esta realidade quando reza que desfeita a habitação terrena nos é dada no céu uma morada eterna. Para quem acredita, o argumento maior que sustenta esta prece é a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Plenamente humano, Jesus, como os demais mortais, passa pela experiência da morte, mas ressuscita! E ao comprovar para seus conterrâneos que não se tratava de um fantasma, mas de uma realidade, Jesus complementa o fato com insistentes referências à vida eterna. Aliás, sua própria vida e missão, sua morte na cruz, não teriam mínimo sentido, caso a vida humana terminasse em pó. Que sentido tem a redenção se, no fim, tudo vira cinzas? Ao fatalismo da ciência, a fé contrapõe a esperança! A dimensão imortal responde ao anseio da redenção plena da existência humana! O dia de Finados tem por objetivo primeiro lembrar a dimensão eterna da vida humana. Ao insistir na imortalidade da alma, a crença religiosa não afronta a ciência. Muito menos pretende anestesiar a consciência! É preciso superar o infundado antagonismo entre fé religiosa e avanço científico. Ao confirmar a aspiração pela imortalidade, a fé reitera a dignidade do ser humano. O homem existe para viver eternamente. O fim da espécie humana não é a decomposição, mas a glória. Dietrich Bonhoeffer, eminente teólogo alemão, na iminência de ser morto pelos nazis, escreve: é o fim ... para mim é o começo da vida verdadeira!

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