sábado, 25 de junho de 2016

CORRESPONSABILIDADE

"Socorrei-me sem demora"! É a súplica diária que a Igreja eleva a Deus, compartilhando o clamor presente no mais fundo da alma humana como também na natureza! Na condição de Pai atento e misericordioso, Deus sempre atende a súplica. A história sagrada pode ser comparada a uma coleção de intervenções divinas em favor da humanidade. A mais notória e comovente é, sem dúvida, a encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. Assumiu a condição humana para convencer a todos dos traços compassivos do Criador. O itinerário de Jesus, quando visto da perspectiva da misericórdia, adquire um singular e comovente apelo. Facilmente se percebe que o grande vetor da ação e instrução de Jesus foi o profundo anelo de socorrer a alma humana. Todo o seu ministério foi motivado por uma sincera consideração pelo ser humano. Por uma sentida misericórdia. A conclusão lógica dessa fundamental premissa é que não existe meio melhor de anunciar Jesus Cristo senão pela prática da misericórdia. Persistem, não obstante, as censuras contra a religião como também expande a propagação do ateísmo. Estampam-se manchetes anunciando a morte de Deus e a consequente inutilidade da religião. Pessoas há que, aflitas diante da progressiva expansão do materialismo, buscam encontrar argumentos racionais, convincentes para rebater tais doutrinas. Estratégia equivocada, pois a cada argumento a favor aparecem outros contestando. A estratégia correta para reafirmar a urgência da presença de Deus na vida de cada pessoa foi proposta por Jesus Cristo. Ao formar a primeira comunidade e enviá-la ao mundo, o Senhor Jesus recomendou que agisse como testemunha. Ora, se a qualificação de Jesus se destaca pela plenitude da misericórdia, o testemunho recomendado passa a ser justamente a prática da misericórdia. Percebe-se a sagacidade dessa estratégia. Pois, se de um lado, é fácil encontrar argumentos que questionem a existência de Deus e discutam a relevância da religião, dificilmente se encontrarão argumentos contra quem socorre um irmão necessitado. Ao recomendar que seus discípulos cultivassem a misericórdia no mesmo grau e na mesma intensidade que está presente no coração do Pai, o Senhor Jesus estava, simultaneamente, qualificando seus discípulos e os adestrando a enfrentar com bravura, mas sem alarde, um mundo sempre hostil e crítico. Inúmeros são os episódios quando Jesus usou com formidável maestria essa infalível estratégia. A mais eloquente deu-se no momento mais dramático de sua vida quando, agonizante, acolheu prontamente o pedido de socorro do criminoso crucificado a seu lado. Agir com misericórdia significa agir com discernimento e aguda sensibilidade. Duas são as principais atitudes capazes de estorvar a pratica da misericórdia: a presunção e a indiferença. Ao se julgar em condições de emitir juízo sobre o semelhante, o presunçoso revela temeridade e leviandade. Inconscientemente, denuncia um profundo desconhecimento de si próprio. Pois quem já se deu ao trabalho de analisar as próprias atitudes reconhece a lamentável situação de todo ser humano: sua incapacidade de praticar o bem que deseja e a recorrente falha de cair em erros que abomina. Compenetrado das próprias limitações, o convencido passa a ser menos crítico e cínico e mais tolerante. Por outro lado, a obsessiva preocupação com o próprio bem estar favorece a pratica da indiferença. Essa é outra grave praga da cultura moderna. Absorto em seus próprios afazeres, alguns de duvidosa utilidade, o ser humano se isola. Obcecado em perseguir um conforto cada vez mais excelso e exclusivo, julga inoportuno qualquer grito por socorro. Aquieta a consciência com pontuais adjutórios, ao mesmo tempo em que se blinda em condomínios cada vez mais seletivos. A presunção e a indiferença, detectáveis, inclusive, em gente que se julga religiosa, são ingentes desafios a serem enfrentados e superados. São eles, e não as teses dos agnósticos, que se apresentam como os grandes contestadores da existência de Deus e que alimentam as censuras mais ácidas contra a religião. Compassivos, porque regidos por uma ética de corresponsabilidade, os discípulos entendem que ao atender, sem demora, aos sempre mais agudos apelos de socorro, apresentam o mais eloquente testemunho a comprovar o genuíno interesse divino de aliviar o sofrimento humano e, de quebra, a relevância da autêntica religiosidade.

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