sábado, 20 de agosto de 2016

FAMÍLIAS BONITAS

Gente bonita ilumina! Extasia! Beleza estética provoca instantânea admiração, mas tem data de validade. Aferrar-se obstinadamente a ela gera frustrações e pode causar sérios desequilíbrios. Outra beleza há que não é fruto do acaso, mas de um lento processo de amadurecimento e de escolhas. Esta categoria de beleza não tem data de vencimento. Pelo contrário, à medida que vai se firmando, costuma exercer maior fascínio, natural fonte de admiração. Gente bonita não acontece, amadurece! No matrimônio, marido e mulher embarcam numa experiência fascinante: ficar cada vez mais atraentes! O ponto de partida é, compreensivelmente, a atração física, a saudável admiração e excitação que o gênero oposto suscita. A experiência da própria família de origem, contudo, é suficientemente rica para convencer quanto à precariedade deste predicado. Depositar na paixão toda a esperança para um convívio feliz e duradouro é arriscado equívoco. Não se é jovem para sempre. Elementar bom senso convence que as pessoas são muito mais que aparências. São interessantes, mas também tem manhas e fazem escolhas! São gente, em suma, e é com gente que se quer aprender a conviver. Apesar da elementar premissa, casais naufragam porque estacionam no acessório. Passado o entusiasmo inicial, a dura realidade do cotidiano surpreende e questiona. A ponto de muitos declararem não conhecerem mais o parceiro/a. Confessam a própria inaptidão de lidar com as diferenças e, escolados numa cultura que ensina fugir rapidamente de qualquer indício de provação, acostumados a resolver problemas no aperto de uma tecla, resolvem desfazer a união. Apressadamente se uniram, mais célere se separaram. Confundiram paixão com amor! Se conhece a identidade de uma pessoa pelo jeito de amar. Estudiosos do comportamento humano ensinam que o sujeito revela quem é a partir das pessoas que ama e da forma como com elas se relaciona. Esta premissa ecoa o que a Palavra Sagrada enunciou há milênios: ama-se o outro como se ama a si mesmo. Se a maneira como a pessoa lida consigo própria é egocêntrica, o afeto que manifesta para com o outro tende a ser marcadamente utilitário. Ama-se pensando nas vantagens que se imagina receber do outro. Essa difusa tendência oportunista fica ainda mais aguçada na cultura moderna que prefere focar direitos mais que obrigações. Habitua-se a querer receber primeiro para somente depois corresponder. Este compasso contamina o afeto e o reduz a um dissimulado balcão de negócios. Nessas circunstâncias, inevitáveis são as frustrações e decepções. Explica-se porque há muita solidão no matrimônio. Quem mal se ama, mal ama! É preciso aprender a se amar para poder amar o outro. O contraponto é a generosidade. Amor genuíno é amor que se doa. Quando se escolhe alguém para amar, e mais ainda para partilhar a vida com ele/a, constituindo família, toma-se a livre e soberana decisão de colocar o outro a frente de seus interesses. É, na realidade, um dos mais nobres gestos de confiança, pois representa colocar a própria vida a disposição do outro. É nobre o gesto, mas igualmente exigente! E requer, preliminarmente, conhecimento fundamentado do parceiro/a e, depois, esforço constante de poda e polimento. A consciência das próprias limitações e insucessos induz naturalmente a uma generosa compreensão para com as falhas do outro. Emerge outra premissa fundamental nesse processo de amadurecimento, a prática da misericórdia. Da compaixão. Da compreensão. Do perdão, enfim. Usar de misericórdia não é colocar gaze sobre feridas. É ter a coragem, primeiro, de limpá-las e medicá-las, para somente depois protegê-las com esparadrapo. É preciso muito amor para curar e muita humildade para deixar-se curar! A prática constante da misericórdia e do perdão, da compreensão partilhada, alimenta sobremaneira o amor e o torna excepcionalmente sólido e bonito. Amor maduro. Amor de gente que se conhece e justamente porque se conhece afina-se. Suprema sintonia. Naturalmente longeva. Casal companheiro suscita admiração. Famílias bonitas instigam emulação. Revestidas de beleza invisível, fascinam pela luminosa discrição. Famílias bonitas não acontecem, amadurecem!

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