Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
sábado, 17 de setembro de 2016
ARTIGO: EVANGELHO DE PAPEL
Variam as sentenças sobre Jesus! Nada estranho, sendo ele autêntico profeta. Na época dele, como hoje, formavam-se opiniões das mais diversas, especialmente sugeridas pela sequência de benemerências por ele realizadas. Ao curar enfermos e alimentar multidões solidificava-se a imagem de líder populista, personagem ideal para tornar confortável a vida das pessoas. A aura mística, evidente na conduta do Mestre, atiçava ainda mais a excitação da população em querer aclamá-lo como o Messias prometido. Entusiasmo semelhante se verifica nos dias atuais ao acompanhar multidões exaltando o poder de Jesus, por entender estar ele aliviando as pessoas de suas tribulações. Projeta-se a imagem de poderoso pronto-socorro, sujeito capaz de satisfazer as mais urgentes e diversificadas necessidades.
Em seu tempo, ao perceber o equivocado entusiasmo do povo, Jesus julgou oportuno expor sua real identidade, como também o propósito de sua condição como o Cristo de Deus. Ao assumir sua missão libertadora, cuidou de expor a estratégia por Deus escolhida, distante da logística humana. Segundo os padrões humanos, libertadores costumam motivar adeptos a derrotar adversários, geralmente recorrendo ao uso da violência. Mesmo no plano ideológico, recorre-se a doutrinação sistemática, impondo uma visão unilateral da realidade. Nesse esquema humano, os libertadores amam se projetar como heróis, vistosos personagens vitoriosos, ocupando lugares de comando, cercados de adulações e privilégios. Em muitas das vezes, mudam-se os personagens, mas os tronos, mordomias e abusos persistem. O povo imaginava que o nazareno fosse seguir o padrão conhecido, libertador a moda humana. Não surpreende, pois, o espanto de todos, em particular, do grupo mais próximo, quando Jesus anunciou candidamente que em Jerusalém, seria rejeitado pelas lideranças religiosas e civis, condenado a morre na cruz. Acrescentando que ressuscitaria depois. Como, todavia, ninguém imaginava o que viesse a ser a ressurreição, a cabeça das pessoas virou. Compreensivelmente difícil ficava imaginar um libertador terminando sua jornada padecendo uma das mais atrozes torturas, reservada a criminosos mais céleres.
Ao anunciar antecipadamente o desfecho da sua missão, Jesus deixava claro que todo processo fazia parte de um preconcebido e abrangente plano divino. Era preciso olhar com transcendência a pessoa e a missão de Jesus. Ao declarar, repetida e enfaticamente, que veio para servir e não para ser servido, Jesus indicava que ao realizar benemerências, não buscava popularidade, nem ascensão social. Agia, ao contrário, movido por compaixão, colocando despretensiosamente seus atributos, sua vida enfim, a serviço do mais desprotegido. Emergia a proposta divina para o resgate da humanidade: fazer da própria existência um dom para os outros. Ao levar a sério essa proposta profética, Jesus encontrou compreensível resistência e decidida rejeição. Ao permitir que sua vida humana fosse sacrificada, Jesus levava ao extremo o dom da própria vida. Nada guardou para si. Por sua morte quis garantir a vida para todos. Por sua humilhação, elevou o Homem! Entende-se porque a figura de Jesus não pode estar desvinculada da cruz. A partir da história de Jesus, a cruz deixa de ser instrumento de infame tortura e passa a ser referência de um profético estilo de vida: colocar a própria existência como dádiva a disposição dos outros. Separar Jesus da cruz significa descaracterizar por completo sua identidade e distorcer radicalmente sua missão.
Coerente, Jesus exige a mesma postura de seus seguidores. Na realidade, discípulo é o sujeito que, ao se deixar cativar pela proposta do profeta, a ele adere livremente. Seguir os passos de Jesus representa lutar pelo resgate da humanidade, abraçando sua receita e entendendo, consequentemente, que a transformação do mundo só começará de verdade quando o próprio discípulo decide mudar conduta. Costuma-se exigir, primeiro, que os outros mudem! No plano divino, o processo é radicalmente outro, mais sensato e mais eficaz. O profeta opta operar as transformações a partir de si, fazendo com que sua presença seja, diariamente, ocasião de bênção seja na família, no trabalho, na sociedade. Rebaixar-se para que o outro cresça!
Somente nesse esquema o evangelho deixa de ser papel para se transformar em boa notícia de salvação.
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