
VER A VIDA
Destinos definem determinação. Metas inspiram motivações. E estratégias. Quando se tem clareza quanto ao objetivo a ser perseguido, a realidade se reveste de especial animação. Traçam-se planos. Definem-se preferências. Valoriza-se o tempo. Canalizam-se energias. Quanto mais nobre a meta, maior a excitação, maior a expectativa. Em contraposição, quando faltam objetivos, a vida se torna fardo pesado para carregar. As horas ficam intermináveis. A alegria e a excitação somem. Uma das piores tragédias na existência humana é a ausência de metas, particularmente de objetivos a mexer com os brios do amor próprio. Um lamento que com frequência se ouve destaca a grande falta de interesse que se percebe, particularmente nas gerações mais jovens. Tanto no trabalho, como nos estudos, um bom número de jovens parece se arrastar. Cumprem as obrigações por imposição, fazem apenas o que for estritamente necessário. No campo acadêmico, o comentário frequente é que os alunos não estão em busca de conhecimentos, mas de graduação. Na área de trabalho, a impressão que sobressai é que muitos suportam as tarefas porque o que interessa é o salário. Sem objetivos não há empenho. Nem há disciplina. Consequentemente, não há nem progresso.
Essa letargia deve-se a uma visão de vida que adquiriu considerável visibilidade nas últimas décadas do século passado. Influenciada por uma filosofia conhecida como niilista, a razão humana, ao questionar o sentido da existência, conclui não ver objetivos definidos para a vida. Existe-se por acaso, por um acidente da natureza. Obviamente, a crítica contra a religião atua como substrato fundamental na sustentação dessa mentalidade materialista. A consequência lógica desse modo de pensar passa a ser o desfrute máximo do presente. Ao questionar o futuro, passa-se a importar-se com o momento. Essas teses deram combustível cultural ao movimento hippie e a onda consumista que contagia as recentes civilizações. Buscam-se freneticamente prazeres imediatos, que custam caro, todavia. Estabelece-se, então, um circulo extremamente vicioso e pernicioso. Para se ter prazer é necessário dinheiro. Ao correr atrás do dinheiro, cai-se inevitavelmente numa superficialidade inconsequentemente. Sem raízes, mente e sentimentos vagam, provocando terríveis desilusões e frustrações. Confirma-se, de forma trágica e paradoxalmente, o absurdo da existência. Essa progressiva desilusão com a vida explica o aumento de suicídios entre jovens e o crescimento do número de pessoas com depressão.
A alma humana não aceita indefinições. Exige metas. Quanto mais desafiadores os objetivos a serem perseguidos, mais o ser humano encontra campo para crescer e mais satisfação encontra no empenho, no sacrifício. Emerge o valor pedagógico da religião. Ao reconhecer a soberania divina, o crente reconhece a divindade como origem e fim de sua existência. Erradica, assim, uma das mais terríveis angustias da alma: a existência não é um acontecimento casual. Pensadores ateus não hesitam em declarar-se invejosos do crente. Pois segundo eles, a fé ajuda a eliminar uma das mais torturantes indagações: que sentido tem a vida? No entanto, a descoberta do sentido da vida, representa, para o crente, comprometida missão. Sua fidelidade a Deus e seu apreço pela vida lhe convencem que não pode ficar parado, simplesmente satisfeito com sua distinção. Comprometido e solidário, sente-se chamado a ajudar o semelhante a reconhecer a sublime dádiva da vida. Alguns caem na ambiguidade de querer ‘ensinar’ essa verdade com pregações e argumentos. A ferramenta adequada, convincente e eloquente, é, no entanto, uma só: a valorização da vida, em todas as suas manifestações, particularmente do ser humano. Pela inflexível coerência de amor pela vida, pelo persistente empenho no trato respeitoso do semelhante, apesar de todas as criticas, censuras, gozações e questionamentos, é que se demonstra a excelência e a sublimidade da vida. Essa logística não segue nenhum organograma nem cronograma. Sustenta-se apenas na serena perspectiva de olhar a vida com os olhos de Deus.
Ver a vida com os olhos de Deus, representa convencer-se do seu intrínseco valor, particularmente da dignidade de cada ser humano. Ao ver a vida com os olhos de Deus, o ser humano enxerga metas e abraça alternativos valores, ordena atividades, canaliza energias, administra tempo! Vive, em suma, e vibra com a certeza de um futuro sempre mais glorioso!
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