
Inevitável a morte! Por mais espetaculares que sejam os avanços tecnológicos, a inteligência humana reconhece, inconformada, que não existem meios de eliminar a morte. Diante dessa realidade irreversível, e diante do vácuo afetivo que a partida de um ente querido provoca, a mente humana esforça-se para assimilar essa invasão sinistra no ciclo da vida. A morte parece debochar da potencialidade humana.
Emergem então várias reações diante desse inevitável desfecho. Pessoas há que se rendem ao fatalismo. Perdem toda graça de viver. No tempo do apóstolo Paulo, encontra-se um grupo de pessoas que recusava trabalhar. Mereceu severa repreensão. Outros, considerando-se impotentes diante desse irreversível desfecho, migram para o outro extremo. Desafiam a morte procurando aproveitar ao máximo cada dia. Carpe diem - aproveita o dia - falavam os latinos. É inegável que a morte intriga a inteligência humana. O ser humano percebe em si o anelo profundo pela vida. Quer viver, e quer viver bem e para sempre.No entanto, quando o homem olha para o futuro é induzido a admitir sua impotência diante do sinistro desfecho. Embora fossem muitas as teorias elaboradas para suavizar o triste impacto do óbito, a mente humana se vê obrigada a resignar-se.
A fé cristã vem em socorro da fragilidade humana. Ensinada por Jesus e inspirada no seu exemplo de vida, a inteligência humana é chamada a crer na ressurreição. Pela fé compreende-se que a morte não é o ponto final da existência humana. O ponto final e glorioso acontece após a morte: o encontro definitivo e eterno com o Deus Trino! Eu sou a ressurreição e a vida, afirmou Jesus, quem vive e crê mim jamais morrerá. Evidente, Jesus não estava se referindo à morte biológica. Por ela, ele próprio passou. No entanto, não permaneceu morto. Ressuscitou. Esse mesmo destino é reservado a todas as pessoas indistintamente. Quem dá crédito a Jesus, convence-se que não existe morte definitiva, não existe a destruição total do ser humano. Na visão cristã, a morte não apaga completamente a vida humana. Biologicamente, o corpo deixa de funcionar, mas a alma, o elemento espiritual, segue vivendo, em nova dimensão. Por isso, os primeiros cristãos referiam-se a morte como a um sono. Assim como o sono é passageiro e dele se acorda, a morte, igualmente, é transitória. Morto, o sujeito não perde sua identidade. Nem fica vagando, assumindo outras identidades. Vai direto ao encontro do Pai. A morte é páscoa, passagem, definiam os primeiros cristãos. Desfeita a habitação terrena, é dada no céu morada eterna. O destino verdadeiro do ser humano é a glória celeste, é participar da festa que não tem fim!
Diante dessa esperança que a fé cristã proclama, muitos pensadores acusam a religião de ser oportunista e delirante. Promete o céu para esquecer-se da terra. Doutrina alienante, afirmam. Catequese piegas. Perde essa censura sua sustentação ao atentar a um dos mais impactantes ensinamentos do Senhor Jesus. Ao referir-se ao ritual que antecede a admissão para o Reino eterno, Jesus deixa claro que o ingresso somente será franqueado a quem viveu, no cotidiano da vida, a radicalidade da caridade. Ingressa o céu quem, em vida, alimentou famintos, saciou sedentos, vestiu nus, cuidou de doentes, acolheu peregrinos e prisioneiros. Deu atenção, em suma, ao próximo menos favorecido. A fé no destino eterno mergulha profundamente o crente na tragédia infame da desigualdade humana. Longe de distanciar-se dos problemas terrenos, o crente somente será chamado de bendito e convidado a participar do banquete eterno caso tenha se empenhado em renovar a face da terra, caso tenha efetivamente colaborado a favor da justiça. A fé na ressurreição não induz o homem a ficar parado, olhando para o céu. Ao contrário, o mergulha cada vez mais na sofrida história da humanidade.
Uma das mais agudas dores, no falecimento de um ente querido, é a sensação da separação definitiva. Dói na alma, aperta o sentimento, não poder ver mais pessoas a quem tanto se amou! A fé na ressurreição ilumina a mente e conforta a alma, porque essa tal separação é apenas aparente. Transitória. Chegará o dia quando, retomado o corpo, homens e mulheres glorificarão a Deus, em comunhão com seus entes queridos, por toda a eternidade. A fé ajuda a olhar além das aparências!
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