
Pela primeira vez em 2.000 anos, isto é, desde o surgimento do cristianismo, a população cristã está sumindo de Mossul. E o que está acontecendo em Mossul estende-se a toda a região da Síria. Damasco, a capital da Síria, foi uma das primeiras grandes cidades a receber o cristianismo. Foi para lá que, Saulo, fervoroso fariseu, se dirigiu com a missão de encurralar a nascente comunidade cristã. Próximo à porta da cidade, Saulo teve inesperado encontro com o próprio Cristo que transformou completamente sua vida e alavancou as comunidades cristãs da região. Desde esse tempo, os cristãos habitam a região. Após a invasão muçulmana, no sec. VII, a população mudou de religião, mas aproximadamente 10% da população permanecem cristãs. Esta realidade persistiu até o aparecimento do Estado Islâmico, em 2010. Até então, muçulmanos e cristãos conviviam pacificamente, chegando inclusive a partilhar práticas religiosas comuns como o jejum e outras festividades.
Com a entrada do EI, a realidade mudou completamente. É preciso destacar que o islamismo propagandeado pelo EI é de caráter radical e político, considerado pelos próprios muçulmanos uma manipulação oportunista dos genuínos princípios islâmicos. Ao invadirem as cidades, os militantes do EI separam muçulmanos de cristãos. Aos muçulmanos são oferecidas certas facilidades, como emprego, ajuda financeira e proteção. Aos cristãos, associados à, e responsabilizados pela, difusão da cultura ocidental em países árabes, são oferecidas três opções: i) converter-se ao islamismo; ii) pagar uma multa por infidelidade, cujo valor é simplesmente impagável e, iii) morrer ou fugir do país. Muitos cristãos estão sendo simplesmente assassinados pelo único motivo de serem cristãos. Quarenta templos cristãos já foram destruídos e conta-se em mais de 400mil o número de cristãos refugiados. Esta dramática e desumana situação tem chamado a atenção da várias lideranças políticas mundiais. A comunidade européia aprovou recentemente uma resolução condenando com veemência a campanha do EI, classificando a perseguição contra cristãos como crime contra a humanidade. A continuar a presente ofensiva, estima-se que em menos de cinco anos, os cristãos estarão varridos do mapa da Síria.
Não é sem razão que o Papa Francisco, junto com outras lideranças religiosas, tem feito reiterados apelos para que se encontre uma solução digna para a caótica situação. A região vive grave e sangrento conflito político e étnico. Um levante contra o regime do ditador Bashar Assad se transformou em uma guerra sem fronteiras, onde tropas leias ao presidente lutam contra os rebeldes do EI, a Al Qaeda combate o EI, a Rússia apóia o presidente tirano e os EUA e o Ocidente tentam restituir a ordem, sem saber muito bem de que forma. Nesta homérica confusão desponta o mais grave desastre: a Síria está perdendo sua identidade. Muçulmanos tradicionais querem a permanência dos cristãos, reativando o milenar convívio. Segundo essas lideranças, é simplesmente impensável a reconstrução da Síria sem a presença dos cristãos! A realidade atual, contudo, empurra os cristãos para a dolorosa opção da fuga.
Recente correspondência distribuída entre comunidades católicas traz comovente apelo do clero que assiste os cristãos sírios. Em sua missiva, os padres solicitam que se divulgue a dolorosa e dramática situação dos cristãos na Síria. São irmãs e irmãos que são perseguidos e maltratados pelo simples motivo de professarem sua fé em Jesus Cristo. O mundo civilizado, e especialmente as comunidades cristãs, não podem ignorar tamanha tragédia, tão brutal genocídio. É dramática a falta de segurança alimentar, como também de outras necessidades básicas. Mesmo com tantas urgentes penúrias, o clero local solicita apenas que se reze por esses novos inocentes! É o mínimo que não se pode deixar de fazer!
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