sábado, 14 de janeiro de 2017

TRANCAS

TRANCAS Assombrosa está a situação das penitenciárias! Não há adjetivo para descrever a inversão de papeis que se verifica no sistema prisional no Brasil. Espaço projetado para coibir a delinquência se transformou em escola e escritório de criminalidade! Evidente, a situação é complexa demais e a omissão e a negligência vêm se acumulando por décadas. Os motins selvagens estavam previstos, não foram nem acidentais nem pontuais. Apenas confirmam a cruel realidade. São várias as considerações que explicam o ultrajante descaso com a situação dos condenados. A mais plausível parece fundamentar-se na popular e difusa mentalidade que bandido tem que ser punido, condenado a apodrecer na cadeia. Esta política de distorcida justiça encontra amplo respaldo na mentalidade popular. Cidadãos há que vibram quando criminosos são mal tratados. É o conceito equivocado que reduz justiça à castigo. Uma vez que a população ignora a situação dos presos e tacitamente aprova as condições desumanas das cadeias, os governos, igualmente, pouco destaque dão à situação tenebrosa que caracteriza o sistema penitenciário. Afinal, cuidar de preso tira voto! Quando, então, explodem motins e cometem-se barbáries, assiste-se a uma interminável sequência de pronunciamentos e reuniões, cujo principal efeito escancara o crônico descaso das autoridades como também a falta de sensibilidade quanto à gravidade do problema. Cuidar do sistema penitenciário representa uma das estratégias básicas para garantir a segurança da população. As crueldades cometidas, agravadas pelas inevitáveis fugas, deixam apavorados os cidadãos. E alimentam ainda mais os impulsos vingativos, confundidos com justiça. Bandido bom é bandido morto, repete-se. Bandido bom é bandido regenerado! É nesta direção que a sociedade, em primeiro lugar, deve olhar. Embora legalmente a responsabilidade pelo sistema penitenciário seja dos governos, esses, na realidade, refletem o pensamento dos cidadãos. Se para a população, fazer justiça significa castigar os transgressores e retirá-los de circulação, escondê-los da sociedade, os governantes seguem aplacando a fúria popular construindo presídios e amontoando delinquentes. Mesmo o mais superficial observador percebe o gravíssimo equívoco embutido nessa política e seu previsível fracasso. Já foi lembrado por renomados estadistas: a maneira como se lida com criminoso e com o sistema carcerário reflete o grau de civilidade de uma nação. Uma sociedade que concorda, mesmo tacitamente, com a aviltação do ser humano, aprova todas as demais gestões de abusos cometidos contra cidadãos honestos. Forma-se uma sociedade que rapidamente desaprende o que é o respeito. E onde falta o respeito, instalam-se a anarquia, a prepotência, a desordem! A selvageria é previsível corolário! A tenebrosa situação carcerária reflete a decadência moral e a crise de valores de uma sociedade. Os governos têm sua grande responsabilidade, não há dúvida! Mas a sociedade também colabora para a manutenção dessa nefasta situação. Ao confundir condenação com castigo, a população aprova a atual degradação dos presídios. Bandido tem que ser punido, mas punição não pode ser confundida com desumano tratamento. Severidade, que tem que haver, não pode justificar cruel e degradante descaso. A sociedade viverá em segurança, não quando se multiplicam presídios de segurança máxima, mas quando imperar a decidida mentalidade de regenerar o transgressor. E isto somente com uma mudança cultural profunda! Missão primordial para todas as instituições que formam opiniões e que educam, com preferência às famílias, escolas, igrejas! E a mídia! A desordem e a decadência nos presídios refletem e resultam do grave desarranjo moral que corrompe a sociedade. Selvageria, crueldade e desumanidade não são brutalidades exclusivos ao sistema prisional. Humilhações, agressões e desrespeito para com o próximo proliferam também entre os cidadãos ‘livres’. Dos governos se esperam providências enérgicas e medidas disciplinares rígidas capazes de garantir ordem no sistema prisional. Que ninguém se iluda, todavia! Enquanto não acontecer na sociedade com o mesmo rigor e com igual empenho uma radical mudança de valores, não serão as trancas de ferro a garantir segurança e tranquilidade! Tanto presidiários como cidadãos livres necessitam, urgentemente, regenerar-se!

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