
Entre os seres vivos, o ser humano é o mais dependente! Desde o instante da concepção, o ser humano depende integralmente de outro ser humano para poder sobreviver. Nos tempos atuais, quando se intensifica a cruzada em favor do aborto, essa dependência está se tornando mais dramática. Ao nascer, o bebê denuncia o vital grau de dependência, pois se ninguém o aproxima do peito da mãe, ele fica largado, berrando de fome até morrer. Entre os seres vivos, o recém-nascido é o ser mais incapaz de se defender. Essa dependência persiste, embora sob novas exigências, a medida que a criança evolui. Necessita dos outros para evoluir, adquirir conhecimentos e aprimorar capacitações. Em determinadas circunstâncias, a dependência é total e vital como, por exemplo, em uma mesa cirúrgica. A sobrevivência do paciente está totalmente entregue a outras pessoas, não raramente desconhecidas! O fato de o ser humano encontrar-se, atualmente, em estágio tão evoluído, deve-se à gerações de antecessores que foram juntando descobertas e conhecimentos e os passando para o futuro. A cultura e os avanços de uma pessoa não são, de forma alguma, conquistas isoladas. São resultados da soma de experiências completadas por variadas gerações, enriquecidas, é verdade, pelo talento e pelo esforço pessoal do cidadão.
Essa realidade existencial provoca naturalmente várias reflexões de alcance pragmático. Ciente dessa constante dependência, o ser humano abdica de todo sentimento de orgulho e de superioridade. Se hoje se considera um profissional de sucesso, isso se deve não somente a seu exclusivo esforço, mas é resultado de uma soma de fatores anteriores. Reconhecendo-se devedor, o cidadão entende o despropósito de qualquer atitude arrogante. Ou discriminatória! O soberbo é um sujeito injusto e mal agradecido! Apropria-se indevidamente de uma glória que não é exclusivamente sua. Nenhuma raça é superior! Nenhum indivíduo é autodidata! Emerge desta consciência outra postura pragmática, a gratidão. Compreendendo a contribuição direta e indireta de tanta gente, o qualificado profissional sente-se impelido a agir com gratidão. Ser agradecido representa uma das maneiras mais bonitas de reconhecimento e de humildade. Reconhecendo-se devedor, o qualificado agente não receia partilhar com os outros o fruto do seu êxito. Beneficiário, nada mais natural e justo dividir com outros tantos os avanços conseguidos.
Desdobramento outro emergente da consciência da total dependência é a cultivo da confiança e da crença no ser humano. Inegavelmente, o ser humano é portador de muitas limitações e perpetrador de variadas maldades. É também, todavia, capacitado de extraordinárias potencialidades. Reconhecer esta elementar verdade induz a firmar a crença no ser humano. Quem não confia no semelhante, não progride. É graças à fé no ser humano que se explicam os tantos avanços conseguidos em tão variados e vitais campos da vida. Algumas dessas situações servem para comprovar e alimentar esta tese. Na mesa da cirurgia, por exemplo, o paciente pratica o mais eloquente gesto de confiança. Totalmente desamparado, se entrega sem reservas à competência de outros. É graças a esta confiança que consegue sobreviver. Aplicando esta situação a outras tantas circunstâncias da vida, entende-se que, sem a devida confiança no semelhante, o ser humano não progride. O outro lado da mesma verdade envolve o agir com honestidade e tratar com lealdade o semelhante. Se existe dependência, deve existir correspondente respeito.
Nenhum ser humano, nenhuma sociedade, é totalmente independente! Incompreensível ignorância imaginar poder sobreviver sem a efetiva participação de outros agentes. A humanidade inteira experimenta vital interdependência. A medida que esta consciência se robustece, desenvolve-se uma natural e salutar cultura de respeito e de valorização por cada ser humano, não importa quem é nem de onde vem. Ingredientes indispensáveis para construir uma paz verdadeira e consistente. Constituímos uma legítima aldeia global.
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