
“Cultivar e guardar a criação”! Com este mote, a Igreja Católica no Brasil convoca seus fiéis, nesta Quaresma, a expressar sua fraternidade na preservação e promoção das várias formas de vidas e de culturas presentes no território nacional. É possível que alguns questionem este enfoque, considerando-o estranho aos propósitos de uma entidade religiosa. Ao compreender, porém, que o ser humano somente alcança plenitude de vida quando integrado harmoniosamente com a natureza, entende-se não ser possível levar uma vida espiritual saudável ignorando aspectos vitais e básicos de sobrevivência. O Papa Francisco reforça essa tese na sua encíclica Laudato Si. No texto – cuja leitura é recomendada a todos – o papa dirige apelo interessante aos cristãos: os convoca a uma conversão ecológica. Urge avaliar, com objetiva responsabilidade, a maneira com que está-se se lidando com a criação, esse grandioso e gratuito presente que Deus deu a humanidade.
Colocando em evidência os biomas, a Igreja, pedagogicamente, incita os fiéis a aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto. Conhecer os biomas e suas características representa um dos objetivos específicos da presente Campanha da Fraternidade. O Brasil, em sua dimensão continental, é agraciado por seis biomas diferentes – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Pampas. Cada um desses biomas representa um conjunto de vida – animal e vegetal – constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria (texto base, 4). Mesmo uma leitura superficial da realidade aponta para a extraordinária beleza e riqueza de diversidade da natureza presente no Brasil. Do ponto de vista teológico, este magnífico panorama é dom de Deus, graciosamente oferecido ao ser humano. Favorecido por tão magnânima dádiva, cabe ao ser humano, primordial e elementarmente, admirar e reverenciar tão fecunda natureza. Emerge, espontaneamente, o impulso para cuidar e cultivar, especialmente, quando se toma conta de algumas tristes e difusas mentalidades.
Ao imaginar que os recursos naturais sejam inesgotáveis, gente há que os explora de uma maneira predatória e oportunista. Motivado apenas por interesses pontuais, o Homem é capaz de destruir em segundos o que a natureza levou milênios para consolidar. Ao derrubar árvores ou contaminar uma nascente, o Homem não danifica pontualmente um elemento. Ele agride e desequilibra o ecossistema, o conjunto de fatores vitais e interdependentes para a preservação de determinados sistemas de vida e, consequentemente, interfere tragicamente na subsistência e na rotina cultural de vários povos aclimatizados e adaptados àqueles sistemas. Agressões desse porte ferem evidente a fraternidade. Por outro lado, ninguém pode se considerar fraterno e permanecer indiferente diante de ameaças tão reais quanto calamitosas. Urge encontrar e desenvolver novos modelos econômicos, em condições de atender as várias necessidades da população, sem, contudo, agredir tão ricos e belos ecossistemas. Não há progresso sustentável sem a preservação da biodiversidade!
Aparece vigorosa a oportuna convocação para uma conversão ecológica. Este planeta é a casa comum de toda humanidade. Zelar por ele representa conservar lhe as condições para que possa hospedar e nutrir vidas, particularmente a de seres humanos! Cultivar e guardar o patrimônio natural graciosamente recebido, representa a maneira mais simples e pura de cultuar a Deus, como também demonstra genuína expressão de fraternidade.
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