sábado, 25 de março de 2017

FAZ DE CONTA

Catimba ganha jogo! É a frase que mais se repete em jogos de Libertadores. Simulando faltas e fingindo agressões, os jogadores tentam ganhar vantagens ilícitas para seus times. Assistiu-se recentemente a um jogador rasgando o próprio uniforme para forçar punição ao adversário. Não raramente, esse tipo de conduta ganha elogios, enaltecendo a malandragem e a habilidade do agente. Na contramão dessa mentalidade oportunista, a direção de um time de futebol na Suécia decidiu adotar uma política diferente: só contrata jogadores corretos, que nunca recorreram a simulações para ganhar vantagens para seus times! Corretas condutas de dirigentes e jogadores resguardam o futebol da difusa tentação da fraude! Nada estranho, que o nível de corrupção nesses países nórdicos seja irrisório, comparado com o que se pratica em um bom número de países abaixo da linha do Equador. A corrupção, na verdade, é a vertente econômica da catimba praticada em jogos de futebol. Simulam-se licitações e maquiam-se balancetes com o propósito de ganhar ou camuflar vantagens ilícitas. Elaboram-se ardilosos esquemas para burlar fiscalizações e encobrir trapaças. Quando, então, as fraudes ficam descobertas, recorre-se, sem hesitação, à justificativa de que a prática é comum e antiga. Como se o ilícito, só porque é praticado por muitos, passa a ser justificado e deixa de ser antiético. Com esta mentalidade, tenta-se justificar a cola nas provas. O doping no esporte! A fraude nos alimentos. Agir com correção é questão de caráter. De princípio. De lealdade. É não consentir à mentira, por ser mentira, independentemente dos desdobramentos ou desvantagens que possa provocar. Por princípio, recusa-se adotar posturas intencionalmente distorcidas e busca-se agir sempre de acordo com a verdade. Entende-se que há, na vida, variedades de princípios reguladores. Os que são objetivamente éticos, contudo, convergem em um pressuposto básico: entende-se por correto tudo o que corresponde ao enunciado. Agir com honestidade promove objetivamente o semelhante. Tal postura requer desenvolver um conhecimento qualitativo quanto ao que objetivamente colabora para o progresso integral do outro. Ideologias, ambições e urgências sempre representam real ameaça a um maduro discernimento. Introduzem, igualmente, pesos e filtros a interferir decisivamente no processo de escolhas. Costuma-se, de fato, dizer que existe uma distância considerável entre teoria e prática. Na teoria defende-se universalmente a honestidade como pressuposto básico de conduta decente. Na prática, contudo, o que se vê habitualmente são concessões e manipulações. O ritmo atual do mundo impõe agilidade e resultados rápidos, situação propícia para simulações e maquiagens. Sem truques não se avança! Subtraem-se pesos, então, adultera-se a qualidade, camufla-se a química. Desponta o triste e desolador substrato que marca a civilização moderna: o fingimento! Vive-se na cultura da duplicidade: nada é aquilo que aparece. Inclusive na área religiosa: a verdade que os lábios professam não encontra eco na conduta que se pratica. É preciso muita coragem para ser correto neste mundo de faz de conta! O peso pragmático do ritmo moderno favorece a catimba, exalta o truque, enaltece a simulação. É preciso um formidável grau de abnegação e de maturidade para agir com honestidade. É preciso possuir claros horizontes e definidos princípios para ser gente de caráter! É preciso estar pronto a abrir mão de vantagens imediatas para permanecer leal. Catimba pode ganhar jogo, sim. Corrupção pode fazer jorrar dinheiro fácil, sim. Os troféus, contudo, ficarão indelevelmente manchados. As pontuais exaltações cederão lugar a humilhantes e vergonhosas exposições. Nunca, ninguém se envergonhou por ter sido honesto!

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