sábado, 11 de março de 2017

BOBO

Fui o bobo da corte! Confessou o dono da maior empreiteira envolvida nas denúncias de corrupção que contaminaram vários governos e contribuíram decisivamente para o colapso econômico e administrativo do país. A confirmarem-se as denúncias publicadas pelos jornais, a empreiteira investiu mais de três bilhões de dólares em recentes campanhas políticas, em forma de propina a políticos e financiamentos a várias agremiações partidárias. Os mais favorecidos, obviamente, foram os candidatos/partidos que disputavam altos cargos executivos. Nas entrelinhas emerge a seguinte trama: enquanto os concorrentes debatiam ideais e desfilavam propostas e a população, cética, acompanhava torcendo por mudanças, a empreiteira injetava dinheiro numa arguta logística oportunista. Ganhasse A ou ganhasse B, quem lucrava mesmo era a empreiteira. Era ela, na realidade, quem mandaria, quem determinaria que obras mereceriam ser executadas, visando, obviamente, não as reais necessidades da população, mas o próprio ganho financeiro. O escárnio e a arrogância chegaram a tal ponto de afronta, que a empreiteira achou por bem criar um departamento gerenciando unicamente o fluxo da propina: Departamento de Obras Estruturadas ou na versão cínica, o setor trepa-moleque! Fala-se, já há muito tempo, que quem governa não são os cidadãos que se sentam na cadeira presidencial, mas outras figuras que agem nos bastidores. São os governantes invisíveis! Quando, então, esses agentes são motivados por interesse torpes, ficam previsíveis os desastres administrativos. Enquanto ingente volume de dinheiro é desviado para corromper políticos e fraudar licitações, serviços básicos essenciais permanecem ignorados num criminoso descaso a prejudicar gravemente a população. Felizmente, essas mazelas estão sendo descobertas e denunciadas e a população, com justiça, exige exemplar punição e rigoroso ressarcimento. Afinal, esses delinquentes se enriqueceram e se refestelaram com dinheiro público. Não basta, porém, descobrir, denunciar e punir políticos promíscuos e empresários oportunistas. É preciso que a população se adestre para não ser repetidamente enganada e roubada. Algumas iniciativas populares já foram tomadas, como a lei que impede doações de empresas a partidos políticos e a Lei da Ficha Limpa que suspende candidatos corruptos de disputar novos cargos eletivos. Outras providências, porém, se fazem necessárias, como limitar o foro privilegiado a parlamentares indistintamente, disposição que visa somente atrasar procedimentos judiciais capazes de condenar e punir agentes públicos desonestos. Como na Lei da Ficha Limpa esse tipo de mudança só acontecerá a partir de uma maciça e bem-articulada mobilização popular. É a partir da base que mudanças substanciais acontecem. Conhecida é a abissal distância entre os interesses que movem os congressistas e as urgências pelas quais a população tanto anseia! É tremenda a inversão dos princípios democráticos e infame a traição de confiança. Por mais argutos e prepotentes, os políticos, especialmente os escolados, reagem e cedem aos clamores populares. Entendem que suas carreiras dependem do voto popular. Urge, todavia, não baixar as guardas e permanecer sempre alerta, pois alguns parlamentares espertos e mal intencionados, estão habituados a, sutilmente e nas caladas da noite, introduzir vírgulas e reformular frases que adulteram projetos populares para manterem as coisas como lhes são convenientes. Cidadãos, imprensa, igrejas e outras forças vivas precisam manter-se sempre vigilantes e mobilizados para detectar, denunciar e abortar conluios e conchavos entre políticos desonestos e empreiteiros oportunistas. Pois neste jogo sujo e promiscuo, que alia empresários inescrupulosos e agentes públicos sem caráter, não é o empreiteiro, mas a população que é feita de boba, acintosamente debochada e vergonhasamente ludibriada!

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