sábado, 1 de abril de 2017

SUBVERSIVOS

Vive-se uma evidente crise moral. A sociedade, em geral, experimenta angustiante perplexidade por causa dos valores que regem o comportamento do cidadão. De um lado, assiste-se à intensa exaltação de padrões materialistas, produzidos com apurados recursos mercadológicos, visando convencer e induzir o cidadão a adotá-los como meio infalível em busca da sonhada realização. Por outro lado, o cidadão perspicaz percebe a contingência desses valores. Embora atraentes e maciçamente aceitos, nenhum deles está imune à imprevistos e nem garante perene validade face à inexorável marcha do tempo. Cidadãos que, em outros tempos, eram exaltados como exemplo de empreendedores, ou modelos de beleza, cercados de amigos influentes e gozadores de privilégios e fama, encontram-se em desgraça moral, solitários ou esquecidos. Riqueza e fama possuem limitado prazo de validade! Com razão, questionam-se os valores que o mundo adota como caminho seguro para a realização pessoal. Sente-se, naturalmente, a necessidade de uma alternativa proposta de ideais. Se o material e o imediato não dão conta de garantir harmonioso e consistente progresso, é preciso buscar preferências que transcendem satisfações sensíveis e egocêntricas. Urge educar-se a olhar além do pragmático e do sensorial. No contexto de apressado hedonismo se é induzido a ignorar o coletivo, comprando a ilusão de que é possível ser feliz isoladamente. Quem se concentra em avanços individuais geralmente ignora o coletivo. Acontece que sem progresso coletivo não há bem-estar individual duradouro. Ninguém vive isolado. Se o conjunto social encontra-se conturbado, nenhuma cerca elétrica garante o tranquilo gozo de mordomias. Emerge, como referência fundamental e coletiva, a noção transcendente da justiça. Nesta perspectiva, a noção e aplicação da justiça envolve o tratamento digno que se reserva a cada ser humano, em sua condição básica de ser humano. Compreende-se que para sonhar com um progresso consistente e harmoniosa tranquilidade requer-se garantir a todos os cidadãos algumas condições básicas para uma subsistência digna. Requer-se ainda entender que a satisfação dessas exigências não é favor nem prémio, mas é direito de todo cidadão. A humanidade como família é a destinatária primeira das riquezas do mundo! Percebe-se porque, apesar de tão fantástico avanço tecnológico, o mundo permanece em estado continuo de perplexidade e confusão. É cruel a inversão de valores. Enquanto projeta luxo e exalta extravagantes supérfluos como troféus de realização individual, o mundo não consegue resolver o flagelo da fome que mata milhões de seres humanos! Investe no espetaculoso, enquanto ignora o básico! O descompasso é vergonhoso e infame! Urge subverter a atual ordem de preferências! Os valores do mundo são comprovadamente enganadores! Falidos! E devem ser revistos. Sente-se a necessidade de subverter, pois, o atual esquema de valores. De rebelar-se contra as variadas pressões, que minam amizades, robotizam pessoas e banalizam princípios éticos. A vigente ordem caótica e massacrante só será subvertida pela adoção consciente e disciplinada de alternativas preferências, tendo como referências básicas e intransigentes a dignidade de cada ser humano e o bem coletivo. Ora, o processo de conversão repousa, preferencialmente, na criteriosa percepção e decisão íntima de cada cidadão. Esta transformação cultural não depende de messianismos e cruzadas, nem tampouco de comoventes e barulhentas passeatas. Não se mudam costumes por decreto. Muda-se de rumo a partir de um discernimento consciente e exemplos convincentes. Nenhuma conversão verdadeira acontece por impulso. Ou imposição. Mudança consistente obedece a um processo contínuo de disciplinada coerência e amadurecida percepção. Uma revolução dessa envergadura transcende aprovações e aplausos, dispensa holofotes e aclamações. Vacina-se, ainda, contra críticas e ironias. Foca-se tão somente nas regeneradoras potencialidades e perenes valores da justiça e da solidariedade. A realização e o progresso da humanidade contam com a ação serena e persistente de subversivos agentes!

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