
DIA DO TRABALHO
O dia do trabalho começou a ser referência nos Estados Unidos! Muita gente associa a data do trabalho ou do trabalhador à ideologia comunista. Na realidade, o movimento a favor do trabalhador e das previsíveis consequências envolvendo o contexto do trabalho originou-se numa concentração de trabalhadores na cidade de Chicago no ano 1884. Ficou decidido nessa concentração de operários que a partir do 1º de Maio de 1886 a jornada de trabalho não podia ultrapassar 8 horas. A esta bandeira foram se agregando, posteriormente, outros pleitos favoráveis à classe trabalhadora. Nesta tensão, interminável, entre as classes patronal e operária infiltrou-se a ideologia comunista, conclamando os trabalhadores à luta contra o patronato, projetando uma civilização proletária. Emerge, então, a luta de classes que, obviamente, torna sempre mais difícil o diálogo. Explica-se porque, durante décadas, as comemorações do dia do trabalho estivessem marcadas por protestos violentos. Interessa registrar, de passagem, que nos Estados Unidos o dia do trabalho é celebrado na primeira segunda feira de setembro! Neste contexto de conflitos ideológicos, o Papa Pio XII, em 1955, estabeleceu que o dia Primeiro de Maio fosse dedicado a São José Operário. Com esta conotação religiosa, a Igreja visa enfatizar a dignidade do trabalho e do trabalhador. Todo operário deve sentir-se colaborador privilegiado na obra contínua da criação. Com seu suor e talento o operário, não importa seu estado social, completa e enriquece a bela obra da criação. Sempre sensível à situação dos trabalhadores, a Igreja tem dedicado considerável atenção às questões éticas e morais envolvendo o campo do trabalho, com seus problemas e conflitos inerentes.
Na atual conjuntura local e mundial, urge refletir sobre o sentido da comemoração do dia do trabalho. Persiste a tensão entre capital e trabalho. Apesar dos consideráveis avanços em condições de trabalho e legislações trabalhistas assegurando direitos justos e benefícios merecidos aos operários, persistem insatisfações e reivindicações, tanto pelo lado patronal como pelo lado operário. Fator complicador neste contexto conflituoso é a grave situação social. Contam-se em milhões os desempregados, sem incluir migrantes e refugiados, muitos entre estes subempregados ou trabalhando clandestinamente. O quadro social se torna mais agudo ainda pelos avanços tecnológicos em diversas áreas. A excedente mão de obra disponível representa condição favorável à exploração do trabalhador, à chantagens psicológicas e à imposição oportunista de condições subumanas de trabalho, indicativos evidentes da inerente perversidade do absolutismo do lucro. Infames são os ganhos quando desprezam a misericórdia!
Emerge, obrigatoriamente, a dimensão moral entre o capital e o trabalho, entre o lucro – camuflado de produção – e a dignidade humana do trabalhador. No indispensável embate entre sindicatos e patrões, o foco não pode ser somente o avanço em direitos. À direitos correspondem deveres. Tampouco justificam-se intransigências ideológicas. Urge incluir no debate valores morais transcendentes, que impelem a dar preferência ao conjunto social, ao bem comum, e não apenas a pontuais reivindicações. Urge entender, igualmente, que a complexa realidade do trabalho não pode ficar refém a fatores econômicos. Maiores ganhos, sejam de que lado forem, não representam, necessariamente, melhoras coletivas em condições de vida! Fundamentalmente, é de vidas humanas que se trata, e este deve ser o mérito intransigente em todo debate e negociação. A nobreza do trabalho e a dignidade do trabalhador ultrapassam os estreitos limites classistas e ideológicos! Ultrapassam sobremaneira a idolatria do lucro!
No atual contexto nacional, decisões importantes estão sendo tomadas e que afetarão a vida de milhões de trabalhadores e suas famílias. Importa debater a legislação. Legítimo é defender interesses. O confronto de ideias é democrático e salutar. Que transpareçam neste embate genuínos sentimentos patrióticos, orientados por sólidos princípios éticos e morais. Não há progresso consistente se não for coletivo e justo!
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