domingo, 23 de abril de 2017

FAIR PLAY

Esporte educa! Esporte revela! Considerando que o esporte mexe primordialmente com emoções, ações e reações adotadas em disputas esportivas representam espaço favorável para conhecer traços de caráter de seus agentes. Muito oportuna, pois, a polêmica gerada pela atitude do jogador do São Paulo FC, Rodrigo Caio, ao assumir a falta cometida contra o goleiro de sua equipe, livrando, com esta atitude, seu adversário, Jó, do terceiro cartão amarelo que o impediria de jogar a segunda partida das semifinais do campeonato paulista. Paradoxalmente, a atitude do zagueiro contrastou com a pantomima do goleiro acusando o pisão, com evidente intenção de incriminar o adversário e forçar sua punição. A inusitada atitude do jovem zagueiro polarizou o debate e as crônicas esportivas, normalmente focadas em analises de jogos, jogadas e resultados. Tamanha repercussão deve-se evidente à aguda crise moral por que passam o país e o mundo! Questionado, o zagueiro simplesmente disse que fez o que sentia ser seu dever. Sua declaração lembra sentença evangélica pronunciada pelo Senhor Jesus, com quase idênticas palavras: quando tiverem cumprido todas as ordens, digam: somos simples servos. Apenas fizemos o que devíamos ter feito (Lc17,10). Em tese, a atitude do zagueiro acabou prejudicando a própria equipe, pois se tivesse se omitido, o time adversário ficaria sem o seu principal artilheiro no jogo decisivo de returno. Compreensivelmente, esse dado pesou sobremaneira na reação contrária dos companheiros da equipe e da comissão técnica. Por outro lado, abriu espaço para um debate mais abrangente! A discussão em torno da atitude do profissional é oportunamente salutar nos tempos atuais, quando tirar vantagem, sem questionar métodos, parece ser o dogma proposto por uma sociedade predominantemente pragmática. O rápido raciocínio do atleta preferindo agir com correção merece louvável destaque. Instintivamente e com exemplar naturalidade, escolheu ser honesto com sua própria consciência. Em suas palavras, apenas fez o que era seu dever. Agiu dessa maneira porque preza o valor da integridade e opta cultivá-lo! Atitudes marcam mais que oratórias! Dignos gestos nem sempre acompanham belos discursos! Agir com honestidade numa sociedade demasiadamente preocupada com vantagens imediatas passou a ser ato heroico. O que deve ser norma de conduta, em todas as esferas da vida, passa a ser exaltado como feito extraordinário. O correto virou andar na contramão! A admiração ou crítica dada ao gesto denuncia a difusa degradação moral que contamina os costumes modernos. A divulgação dos infames esquemas de corrupção envolvendo graúdos empresários e eminentes dirigentes políticos apenas confirma a desavergonhada e nociva subversão de princípios a reger comportamentos. Entende-se a razão porque a sociedade anda tão desorientada. E desgovernada. O que se depara é a difusa doutrina que torna válido o que dá retorno imediato. Tudo é válido, desde que seja vantajoso. Essa regra embute, obviamente, conflitos de interesses. Esse vale tudo provoca logicamente rivalidades, traições, mentiras e agressões. Normal fica, nesse ambiente, a divisão entre os cidadãos e a desintegração de costumes! Urge repensar valores! Urge repensar condutas! Urge cada cidadão se questionar se é o senso do dever que rege a própria conduta ou se é o impulso por rápidas e imediatas vantagens. A regra do Fair Play tem muito a ver com caráter, com hombridade, com honestidade. Com caridade fraterna, em suma! A mística cristã insiste na prática de fazer diariamente o exame de consciência. Conclama o fiel a colocar-se diante de Deus, e sob a divina luz analisar seus atos. Oportuníssimo exercício para cultivar a honestidade e renunciar à embustes. Agir com Fair Play pode não render rápidas vantagens materiais, mas é, certamente, a conduta que mais enobrece o caráter. Assegura, ainda, permanente paz de alma!

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