
Viver é aparecer! Confirma o secular ditado: quem é vivo sempre aparece! Marcar presença é intrínseca exigência de autoestima, impulso urgente para sair do anonimato. Quanto maior a vitalidade, mais perceptível se torna a ascendência sobre o ambiente. A vida naturalmente é fecunda. Urge conscientizar-se, particularmente em tempos atuais que privilegiam tanto as aparências, que marcar presença depende fundamentalmente de uma real vitalidade. Ignorar esse dado básico, induz a impulsionar a cultura de superficialidades. No afã de impressionar, apela-se a vulgaridades. Como, no entanto, este tipo de êxito costuma possuir prazo de validade, com frequência seus cultivadores caem no esquecimento, propensos a depressões! Não é de se admirar que a atual civilização andasse marcada por frustrações e depressões. O superficial esgota rápido. O emocional possui duração curta. Ao despertar, o sujeito se vê oco. Cheio de futilidades e vazio de substâncias, com facilidade desmorona.
Estas pressões e pressas de marcar presença a todo custo encontram-se infiltradas também nas práticas religiosas, particularmente em cultos e liturgias. Busca-se chamar atenção, importa-se atrair multidões. Medir eficiência pela popularidade é gravíssimo equivoco, em todo campo de atuação. No religioso, torna-se ainda mais delicado. Nesse esquema, transmite-se aos outros não o que necessitam saber, mas o que lhes agrada ouvir. Mesmo não passando necessariamente instruções erradas, submete-se, todavia, ao risco de apresentar pregações inconclusivas. Uma vez que o foco reside nas aparências, a urgência de apresentar novidades acaba impondo fortíssima pressão psicológica. E econômica! Investe-se em ruídos, tanto sonoros como visuais. Aumenta-se o volume da música. Amplificam-se os decibéis da oratória. Multiplicam-se guarda-roupas e outras parafernálias acidentais ou cênicas. Aparece o voraz e paranoico culto à personalidade! Vaidade e narcisismo em ritmo acelerado provocam previsível desgaste. Não é de se admirar, portanto, que entre os profissionais liberais, a classe clerical ostenta considerável número de depressivos. Há mais padre esgotado que policial estressado!
É preciso ajustar o foco. Profundo conhecedor da alma humana, o Senhor Jesus Cristo deixa precioso manual de instrução profissional. Vale tanto para o padre como para qualquer outro profissional. Ao comparar o grupo de seguidores a uma videira, Jesus se apresenta como sendo o tronco e os discípulos, como ramos! Nem é preciso ser botânico formado para entender que o ramo só produzirá frutos a medida que viver enxertado no tronco. Separado do tronco, o ramo morre e seca! Enquanto participa da seiva do tronco, naturalmente viceja e espontaneamente produz fruto. Recorrendo a esta simples, mas sublime, comparação, o Mestre ensina que o mais importante não é a quantidade da produção, mas sua intrínseca qualidade. A produção é consequência da permanente inserção no tronco. Quanto mais vital a participação na seiva, mais naturalmente o ramo produz frutos saborosos e abundantes. O ramo ‘entende’ que sua vitalidade aparecerá somente enquanto estiver permanentemente ligado ao tronco! Mesmo nos cíclicos invernos da vida, o ramo permanecerá ‘em obras’. Silenciosamente e, providencialmente podado, o ramo ligado à seiva vai armazenando energias para, quando o calor do sol se faz sentir, desabrochar em vistosos e saborosos cachos.
Quando intensa, a vida surpreende! Quanto maior a vitalidade, mais frequentes são as novidades. Não necessariamente ruidosas, mas, certamente, fecundas e fantásticas. Quem está vivo, está sempre em obras. Naturalmente aparece. Espontaneamente surpreende! Intensamente vive, espalhando serena alegria! Quem, por outro lado, busca apenas aparecer nem sempre está genuinamente vivo!
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