
“Agir de acordo com o que se conhece”! É com esses termos que Santo Tomás de Aquino, um dos mais lustres pensadores cristãos de todos os tempos, define a consciência. Agir com consciência representa, portanto, moldar condutas de acordo com o grau de conhecimento que se possui. Quando então alguém diz estar com a consciência tranquila indica estar agindo conforme as convicções que possui. Inevitavelmente desponta o dúbio. A multiplicidade de informações a que o cidadão hoje tem acesso complica sobremaneira o grau de conhecimento. Nos tempos modernos a busca pelo conhecimento compara-se justificadamente à entrada num labirinto. As possibilidades são variadas, como também enorme é a probabilidade de enganos e frustrações.
Primeira e lógica urgência é aprender a filtrar as inúmeras e constantes informações a que se tem acesso. Checar a confiabilidade e a seriedade das fontes. Espalham-se muitas inverdades pelas mídias sociais, notícias e comentários subjetiva e tendenciosamente manipulados. Disseminam-se informações fragmentadas que, obviamente, mais turvam o conhecimento que o alimentam. Formar um objetivo e sólido conhecimento demanda esforço, pesquisa e tempo. Estudo, em suma. A leitura de um artigo ou o acesso a uma reportagem não são suficientes para se formar balizada opinião. Muitos posam de entendidos porque pescam aleatórias informações. Quanto mais ralo o conhecimento, mais enfático se apresenta o sujeito! Assim é a vaidade humana! Esbarra-se ainda em um ulterior desafio, o agudo grau de subjetivismo reinante. O sujeito pode até ter acesso a informações confiáveis, mas, em última análise, quem decide o que é ou não correto, é a própria pessoa. Defende-se, hoje, a autonomia na decisão. O sujeito é, e quer ser, o único responsável por suas decisões. Postura distinta, teoricamente, mas sempre sujeita a sutis interferências como ideologias ou preconceitos.
Neste complicado contexto, emerge naturalmente a questão ética. Quem é que define, e com que autoridade, o que é moralmente correto ou não? Em uma cultura meramente laica, a resposta salta pronta: o sujeito. À sociedade cabe apenas definir básicas balizas que impeçam invasões e assegurem o equilíbrio entre a harmonia social e os direitos individuais. Mesmo em países laicos por definição, encontram-se, porém, vivas e atuantes comunidades religiosas, com seus códigos morais e numerosos seguidores. Em nosso país, particularmente, a cultura cristã perpassa as várias camadas da organização social. Previsível, portanto, o conflito e confronto entre dogmas morais confessionais e valores comportamentais laicos. A tentativa de um querer se prevalecer sobre o outro é constante. Previsivelmente tenso e delicado é o impasse. Se de um lado a sociedade pluralista não admite que igrejas imponham seus códigos morais, por outro lado, nem é democrático impedir que as mesmas venham a publico defender seus valores e expor argumentos que os justifiquem. Equilibrar a tensão e salvaguardar o direito à liberdade é sempre tarefa desafiadora e delicada! Às igrejas cabe, no limite de seu próprio espaço, educar seus fiéis, na firme confiança que a verdade ensinada e praticada haverá de prevalecer. Desnecessariamente desgastante é mobilizar-se para impor à força dogmas comportamentais, por mais nobres que possam parecer. Nenhuma lei assegura conduta moral! O caminho permanece o diálogo elevado e constante com a sociedade, defendendo com respeitosa firmeza e clareza de argumentos as próprias posições e salvaguardando a serenidade necessária para a formação de um balizado conhecimento.
Urge formar consciências! Somente um sólido e amadurecido conhecimento garante agir com consciência tranquila. Em última análise, a verdade é que liberta e dignifica!
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