
Em comunidade se vive para servir! Integrar uma comunidade implica reconhecer-se chamado a agir em função do outro. Faz todo sentido apresentar o corpo humano como o mais perfeito exemplo de vida em comum. Nenhum membro do corpo vive em função de si. Todos os órgãos trabalham em benefício de um bem-estar integral. Sendo, na raiz, uma comunidade, a Igreja, místico corpo de Cristo, reconhece que tem um testemunho precioso a prestar à sociedade. Em particular, à família. Pois fortalecendo a instituição familiar estará contribuindo sobremaneira para construir um saudável convívio social. Estreita é a relação entre lares bem constituídos e convívio social harmonioso. Consentida esta premissa, é se obrigado a afirmar que os inúmeros desencontros e graves desajustes perceptíveis no convívio social devem-se, em grande parte, à esgarçadura das relações familiares. A família deixou de ser uma instituição sólida e duradoura. No mundo atual, o conceito de família está mudado. Reflete a porosidade do sentido de compromisso aferível em todas as esferas do convívio social. Caducada a serventia, desfaz-se, sem constrangimentos nem remorsos, o compromisso. Esta mentalidade do descartável contamina o voto de amor mútuo que os noivos professam na cerimônia do casamento. O que, em outros tempos, era considerada uma consagração a ser cultivada durante toda uma vida, a promessa de fidelidade passou a ser, em não poucos casos, uma combinação de intenções com potencial data de vencimento.
É preciso reconhecer que o convívio entre seres humanos, mesmo entre pessoas apaixonadas, nunca é fácil. O ser humano é complexo, limitado e inconsequente por natureza. É previsível, portanto, que entre duas pessoas complexas, limitadas e inconseqüentes, o convívio seja turbulento, apesar do forte afeto. Particularmente em tempos atuais, quando o conceito de individualidade pontifica sobre, e a subjetividade pauta, os relacionamentos em todos os níveis. No afetivo, inclusive. A referência deixou de ser ‘nós’ e passou a ser ‘eu’. Se, de um lado, esta valorização individual colabora para relacionamentos mais dignos e respeitosos, por outro, exige um equilíbrio e um desprendimento para que o ‘eu’ não sufoque por completo o ‘nós’. É fácil deduzir, quando os programas começam a ser geridos segundo a cabeça de cada um, sem diálogo e sem concessões, que fatalmente trombadas violentas sucederão. Como é sempre mais difícil juntar cacos e consertar, o bom senso sugere evitar as colisões ou pelo menos reduzir seu impacto.
Este serviço a Igreja assume como seu. Não com exclusividade, nem com pretensões arrogantes e prepotentes, mas como missão prioritária, inspirada no legado que seu Fundador Divino solenemente lhe confiou. Com sábia intuição, Jesus quis que seus seguidores formassem uma comunidade. Nesta condição, a Igreja, inserida no mundo, reconhece como sua principal razão de ser, agir em função da humanidade. Prestar-lhe um serviço, em especial, quando se trata de famílias. Inspirada no exemplo e no ensinamento do seu Divino Fundador, a Igreja anuncia que o amor é verdadeiro quando capaz de despojar-se em favor do outro. O amor é verdadeiro quando assume evoluir em convívio comunitário. Neste processo, quando livre e consciente, os amantes não perdem nem sua individualidade nem as prestigiadas vantagens. Em comunidade, não se diminui, ao contrário, se afirma e se cresce. O convívio comunitário introduz uma salutar referência no relacionamento amoroso. O amante deixa de se perguntar o que pode receber do outro, para instigar-se a ser sempre mais generoso. Quando se ama de verdade cobra-se de si uma doação sempre mais pródiga. Para quem ama é sempre possível fazer mais. Emerge o contraste com uma das mais infelizes tendências que contamina os relacionamentos atuais. O individualismo exacerbado reduz o afeto a negociatas, a trocas. Vige a norma do toma lá dá cá. Mesura-se tudo pelo esquema custo/benefício. O afeto fica desfigurado por cálculos. O carinho sujeito a exigências. A ternura regida por direitos. Bane-se a alegria da generosidade e da espontaneidade. Abafa-se a gratidão. Abole-se o reconhecimento!
Imprescindível é a missão da Igreja em favor da família, a serviço de relacionamentos afetivos puros e generosos. Com alegria e com profundo sentido de dever persiste em promover e proteger a família, orientada e guiada pelas recomendações do Filho do Deus-Amor. Famílias saudáveis são promessas de tempos felizes.
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