
FOGAREU
‘Vou levar meu filho em outra comunidade, porque lá não tem essa obrigação de assistir à Missa’! Com esses termos, na lata, uma mãe retirou seu filho da catequese da paróquia porque aqui existe ‘a obrigação’ de assistir à Missa. Procurou outra comunidade que administra uma catequese menos comprometedora, mais light! Duas realidades surpreendem nesse episódio. Ambas preocupantes. Uma, de existir comunidades que não incluem a liturgia na formação integral dos catequizandos. A outra, da mãe julgar a participação na missa como uma obrigação extra curricular. Como se possível fosse ser cristão, sem participar da liturgia! Ambiguidade total.
Catequese é diferente de ensino religioso. Catequese não é aula de religião! É possível encontrar pessoas muito entendidas na religião cristã, mas que não são discípulos de Jesus Cristo. São estudiosos da religião. Ora, o objetivo primeiro da catequese é formar discípulos, seguidores de Jesus Cristo. Conhecendo o pensamento de Jesus, está claro que não é possível alguém considerar-se seguidor dele sem integrar-se na comunidade cristã. É conhecida a figura da videira utilizada por Jesus para ilustrar o estilo de vida que queria ver existir entre os discípulos. Ele é o tronco, cuja seiva perpassa pelos ramos. O ramo somente se mantém vivo e fecundo enquanto enxertado no tronco, e consequentemente, na videira. No ensinamento de Jesus, o ramo que não permanece na videira seca e morre. Não há espaço para alguém se considerar discípulo, enquanto distante da vida comunitária. Para aquela mãe, como também para tantos outros batizados, os sacramentos, melhor dizendo, os rituais, são entendidos, e procurados, como ‘bênçãos’ individuais e pontuais. A comunidade, ou a paróquia, é tratada como um mercado onde se compra este ou aquele sacramento.
Nesta linha de pensamento entende-se porque se procura inscrever filhos em paróquias/comunidades onde a duração da catequese é mais curta. Onde os aborrecimentos são menores! O propósito é terminar logo com a obrigação para ficar livre. Paga-se logo ‘o imposto religioso’ para não ter aborrecimentos futuros. Na mesma toada segue o pensamento de tantos que procuram a missa menos demorada. Importa cumprir a obrigação, sem nenhum vínculo com qualquer comunidade. Importa marcar presença e tranquilizar a consciência. Jesus conhecia muito bem esta mentalidade utilitária e individualista. Contou a história daquele rei que ao mandar convidar pessoas para a festa de casamento de seu filho notou que um dos convidados não estava trajado com a roupa de casamento e pediu que fosse retirado da festa. O recado de Jesus é claro, não basta estar presente: é preciso estar em sintonia. Não basta fazer catequese, é preciso vestir o ‘uniforme’ de cristão. A paróquia/comunidade não é somente o local onde se celebra o sacramento, mas a igreja que forma e educa. Ela ensina e nela se amadurece na fé! É preciso querer viver o evangelho de Jesus Cristo. Esta vocação a criança a percebe, primordialmente, no lar. É no convívio familiar que a criança se reconhece chamada a seguir Jesus Cristo na comunidade dos discípulos. Ouso afirmar que em muitas famílias cristãs a catequese é assunto periférico, obrigação pontual, atrelada aos estágios de puberdade e adolescência. Fica claro porque, encerrados os rituais, pais e crianças evaporam. Afinal, o ‘imposto religioso’ foi devidamente quitado.
Saudável é verificar nas famílias cristãs o peso tradicional de fazer catequese. É preciso, porém, lapidar essa exigência cultural, aprimorando o conceito de catequese. Catequese boa é catequese transformadora, fogaréu a acender a chama luminosa, inerente à vocação cristã! Realmente, é emocionante ver os filhos participando da missa da primeira eucaristia ou sendo crismados. Mais alentador é vê-los amadurecer na fé, assumindo sua identidade cristã, levando a vida de dignos cidadãos! Cristão autêntico é gente, é humano, é cidadão honesto! Escola para a vida é a catequese!
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