sábado, 11 de novembro de 2017

FAÍSCA

Apreensivos andam os pais! O alarmante crescimento de jovens depressivos faz os pais perder sono. A aflição é evidente, alimentada por repetidas notícias de trágicos desfechos. Agrava o contexto a angustiante constatação: está ficando cada vez mais difícil os pais conversarem com seus filhos, ter acesso ao que passa por suas cabeças. A frequente queixa é a reclusão dos filhos em seus próprios mundos, distantes dos próximos, mas por demais conectados com estranhos. Em muitos lares ‘normais’ os pais se percebem tratados como intrusos, vistos como seres de outro mundo, desqualificados e despreparados para atender os reais anseios dos jovens. Aflitos, relatam as constantes tentativas de estabelecer diálogo com os filhos, iniciativas, todavia, infrutíferas. Este isolamento da realidade imediata contrasta com a desenvoltura no trânsito nas amplas redes de grupos em que a juventude se mete. Incapazes ou impedidos de ter acesso ao conteúdo desses novos veículos de informação, os pais caem desolados, sem saber o que fazer ou como fazer! Prevenir é sempre mais eficaz e menos traumático que remediar! Estar presente envolve mais do que prover! Criar ambiente de convívio familiar saudável é tarefa a ser assumida desde o primeiro dia do casamento. Habituar-se a enxergar o lado bom nas pessoas e nos acontecimentos representa um dos primeiros e mais saudáveis recursos positivos. Melhora a autoestima, fomenta o otimismo. Não basta, todavia, enxergar. É preciso também externar, elogiar. Uma mal calibrada vergonha inibe destacar qualidades no semelhante. Costuma-se abrigar-se num falso respeito para justificar a omissão. Basta, todavia, conferir a satisfação, a melhora no humor, quando alguém nota e comenta positivamente uma realização da gente. O estímulo integra o amadurecido e dá condições para que o sujeito não sentir medo em aparecer. Estranho, não se percebe nenhum constrangimento ao apontar falhas ou divulgar defeitos. Complicado é o ser humano! O reconhecimento dos méritos é recurso indispensável na consolidação da autoestima. Refere-se, evidente, a elogios sinceros e honestos. Não a bajulações oportunistas. Enorme e perceptível é a diferença entre um elogio criterioso e uma adulação rasteira. Quem elogia com pureza de intenções não busca vantagens próprias. Tampouco quer inchar a vaidade alheia, tanto que não hesita corrigir, se fizer necessário. Ao contrário, quem bajula pretende tão somente agradar, frequentemente maquiando realidades e supervalorizando qualidades. Tudo, para não perder privilégios ou prestígios. O ser humano precisa de reconhecimento, desde que seja honesto e educativo. Emerge, neste contexto, nova postura, nem sempre bem entendida e corretamente administrada. Muitos pais confundem estímulo com ausência de disciplina. Ao querer dar segurança afetiva e psicológica aos filhos, abrem mão de corrigir. Está completamente ambígua a doutrina que diz que disciplina tolhe a liberdade e atrasa a evolução psíquica e emotiva dos filhos. Ambiente familiar saudavelmente consistente não é feito somente de ‘sim’, inclui também o ‘não’. Aprender a reconhecer limites e respeitar regras representa ingrediente indispensável na formação de uma personalidade amadurecida! Sentindo-se valorizada, a pessoa não tem medo de expor-se, de mostrar quem é, de falar de seus projetos. Esta é outra referência a induzir o jovem a retrair-se: o medo de não ser aceito ou compreendido. São frequentes os desencontros entre adolescentes e genitores por causa de projetos futuros. Queixam-se os jovens que os pais não entendem. Ao encontrar resistências, críticas ou gozações, é natural que o jovem se recolhe, se refugia a ambientes onde se imagina entendido e estimulado. Falta neste particular tópico discernimento e paciência. O jovem, sabe-se, é volúvel, é contestador. Rebelde sem argumento, muitas vezes! Ao invés de confrontar, convém criar ambiente onde ele se sente confiante para manifestar-se. Ouvido ao expressar-se. Discordar é permitido, mas com respeito e valorização. Acima de tudo, aos pais cabe dar tempo ao tempo. Modismos caem em desuso. Gritos de guerra perdem força! Antes de provedores, filhos precisam de pais educadores. Mais que uma casa, filhos querem um lar, onde a faísca da vida se acende para evoluir em permanente chama.

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