
Dez milhões de brasileiros vivem com R$40,ºº por mês! O que se gasta, por aqui, com uma pizza e uma cerveja, dez milhões de brasileiros tem que saber se virar durante um mês! A estatística é oficial, Pnad Contínua, confirmada pelo IBGE. São números que estarrecem e envergonham. Tanto pela crassa injustiça como pela infame indiferença. Dados, igualmente, oficiais garantem que, no país, o que falta não é matéria prima, mas oportunidades. Já foi dito que o Brasil não é um país pobre, é um país injusto! Que se resigna diante da cruel desigualdade.
Pensa-se imediatamente na irresponsabilidade dos governantes. E é claro que eles carregam uma considerável parcela de culpa. Especialmente agravada pela nefasta corrupção que contamina as administrações. Como também pelo espírito de carreirismo que pauta a maioria das decisões dos executivos. Dinheiro de impostos é gasto não no que a população necessita de verdade, mas em obras que projetam o perfil dos administradores e inflam o ego de servidores executivos. Esses políticos são ética e moralmente responsáveis pelas obras que realizam e pela maneira como gerenciam o dinheiro público. Não se pode, todavia, esquecer que todo político é eleito. Sobre o eleitor, portanto, recai uma cobrança cívica e ética. Votar de qualquer jeito ou omitir-se no processo político redunda, em última análise, em conivência com os vergonhosos procedimentos. Ao sufragar candidatos notoriamente oportunistas, o eleitor aprova tacitamente a prática de abusos administrativos.
Além da responsabilidade cívica e ética, o cidadão cristão responde também pela conduta moral. Sua condição de batizado o torna moralmente responsável pelos destinos de seu semelhante. Nosso Senhor Jesus Cristo deixa bem clara a incoerência de quem diz amar a Deus enquanto ignora a sorte do irmão. E o apóstolo João, em sua carta, é ainda mais contundente: chama de mentiroso quem imagina amar a Deus enquanto vira as costas para o irmão. O amor a Deus está intimamente ligado ao amor ao próximo. Não se cogita, portanto, cultuar a Deus e permanecer inoperante diante do sofrimento alheio. Urge reagir e agir! Urge despertar e se mexer! Informações técnicas garantem que não é matéria prima que falta, mas uma justa distribuição de riqueza. O Mestre Jesus deixa claro o caminho na catequética narrativa da multiplicação dos pães. Além da dimensão religiosa, a postura de Cristo apresenta uma intrigante provocação educativa e sociológica. Ao ser confrontado com a falta de dinheiro suficiente para comprar pão para toda aquela multidão, o sábio Mestre instrui a procurar o que havia de disponível entre os presentes. Emerge a figura emblemática de um rapaz, que coloca a disposição seus 5 pães e 2 peixes! É legítimo bisbilhotar: será que não havia mais ninguém com lanche guardado? A solução encontrada é paradigmática: tudo o que é repartido – mesmo que sejam míseros 5 pãezinhos – se multiplica. Quando se aprende a desapegar-se, o que se possui se transforma em bênção multiplicadora. A lição moral e sociológica está na mudança da chave: ao invés de viver pensando exclusivamente em si e nos próprios interesses, aprenda-se a abrir-se para as necessidades do semelhante. Uma vez operada esta fundamental conversão, a criativa caridade sempre vai encontrando meios de encurtar desigualdades. A melhor solução está sempre latente no desafio. Basta saber garimpar! Para o cristão salta indigesta verdade: não se pode ler a Bíblia sem sentir-se responsável pelo semelhante! O pão milagroso compreende todas as qualidades e potencialidades que possui uma pessoa, uma entidade, uma nação. Ninguém é tão pobre, nenhuma entidade ou nação, é tão carente que não tenha nada a repartir com o semelhante, advertia o Papa João Paulo II. A injusta desigualdade não reside nos bens que se possui, mas na maneira como se administram tais bens!
A responsabilidade moral, assim como a ética e a cívica, recai sobre todos! Pobres sempre haverá, provoca sutilmente o perspicaz Mestre, insistindo na necessidade de manter-se constantemente vigilante. Que não se leia a Bíblia sem um ‘pãozinho’ disponível e pronto para ser repartido!
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