
Maria não estava na primeira celebração eucarística! Ela não estava presente na última ceia pascal judaica que Jesus celebrou com seus discípulos. Presume-se, todavia, que após a ressurreição, Maria participasse de várias celebrações eucarísticas. Ela que havia alimentado seu Filho divino enquanto tomava forma humana no seu ventre: ela que o havia alimentado com seu leite materno nos seus primeiros meses de existência; ela que havia alimentado seu corpo cozinhando para ele durante anos, agora, depois de ressuscitado, aproxima-se e, em comunhão com outros discípulos, se alimenta com o mesmo corpo por ela alimentado e criado! Curiosidade espontânea emerge; precisava Maria comungar? Precisava Maria receber novamente seu Filho Jesus? Não estaria ele constantemente presente em sua mente e no seu coração?
Maria comungava justamente porque a memória de Jesus nunca ficou deletada do seu convívio. Comungar, de fato, não se reduz a receber materialmente a hóstia consagrada. Quem enxerga a comunhão eucarística como uma simples recepção de pão bento permanece na superficialidade do rito. Para estes a comunhão nada altera na existência cotidiana. Ao se aproximar da comunhão eucarística de forma compenetrada, o fiel externa o íntimo sentimento de aprofundar sempre mais a sintonia com Jesus Cristo. Ao consumir o pão e o vinho, transformados no Corpo e Sangue do Senhor, o fiel expressa seu profundo anelo de mergulhar-se no mistério de Jesus Cristo. No plano digestivo o pão e o vinho são assimilados pelo organismo humano. No plano espiritual, porém, o processo é inverso. É Cristo que vitaliza o fiel com sua seiva divina. Ao comungar, o fiel expressa o profundo desejo de permanecer em Cristo e que este permaneça nele e lhe conduzisse à vida plena. Quanto maior o amor, mais intenso é o desejo de sintonia perfeita. Nesta dimensão, Maria, certamente, foi a mais ardorosa motivadora da participação na Eucaristia. Afinal, ninguém amava seu Filho como ela amou. Ninguém, como ela, guardava viva a sua memória! Ninguém, como ela, entendia a importância de fazer tudo o que ele disser!
Maria comungava em sua condição de integrante assumida na comunidade dos seguidores de Jesus. Em sua condição de mãe, ela se tornou a mais convicta entre os discípulos. Entendeu como ninguém que não se pode seguir Jesus Cristo sem estar intimamente ligado aos irmãos. Na alegoria da videira, tão querida ao Mestre, Jesus se apresenta como tronco único e os discípulos como ramos vitalmente enxertados no tronco. Em outra alegoria paralela, Jesus é apresentado como a cabeça de um corpo chamado Igreja. Ora, não se imagina unir-se a cabeça sem se unir, igualmente, ao corpo. A comunhão eucarística é essencialmente eclesial. Com a mesma intensidade que se mergulha no mistério de Cristo, pela comunhão eucarística se mergulha, igualmente, no mistério da Igreja. Equivocado é considerar a comunhão eucarística como assunto meramente individual. Ramo separado do tronco e da videira seca e morre. A Eucaristia é essencialmente eclesial e missionária!
Enquanto vivia, Maria certamente participava assiduamente do sacrifício eucarístico. Ninguém como ela inseriu-se tanto na oferta de Jesus na cruz! Ela entendeu que naquele martírio cruel e injusto se encontrava o remédio da redenção humana. Ao oferecer livremente sua vida, Jesus conclamava a entender que o resgate da humanidade passa pela doação livre da própria vida. A humanidade se regeneraria a medida que as pessoas esquecessem de si em favor do semelhante. Ao registrar a presença de Maria de pé junto à cruz de seu Filho, o evangelista insinua que Maria havia entendido a lição. Com o coração dilacerado, esqueceu-se de si e ofereceu-se junto com seu Filho em resgate à humanidade. Ao comungar eucaristicamente, o fiel segue o exemplo de Maria, esquece-se de si e busca viver o amor-doação. Coerente, o fiel também quer se transformar em pão para a vida dos irmãos!
Particularmente viva estava a memória de Jesus na vida de sua mãe, Maria. Em toda celebração eucarística, esta memória adquire uma dimensão nova, misteriosamente real. Na vida de Maria, o Filho Jesus, indelevelmente presente em seu afeto, tornava-se sacramentalmente vivo e a alimentava espiritualmente. Em Maria, e em cada fiel consciente, a comunhão eucarística, expressa e simultaneamente promove, a mais plena e fecunda identificação com Jesus Cristo. Entre os discípulos, não há ninguém mais eucarístico que Maria!
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