
Quem ama, corrige! Bíblico conselho, carregado de sabedoria e de propósito, e que precisa sempre ser lembrado. Curiosamente, em tempos atuais, quando o acesso à informação está tão facilitado, registra-se uma difusa e preocupante insegurança nos pais quanto à disposição e à viabilidade de corrigir. Observando seu modo de agir, desconfia-se que os pais não sabem como corrigir. Sabem que é preciso pôr limites, mas receiam ser duros ou parecer autoritários. Evidente, a diversidade de opiniões quanto às possíveis influencias negativas na autoestima das crianças quando corrigidas colabora para fundamentar os receios. Por outro lado, fica evidente o comportamento inconveniente de uma criança quando lhe falta um mínimo de disciplina. Prudente disciplina apruma um miúdo e introduz direcionamentos em sua vida. Uma criança que não sabe se comportar na casa dos outros, na igreja, em ambientes sociais, é natural motivo para reprimido desgosto e, claro, para irritação coletiva. A culpa pelos inoportunos transtornos, insiste-se, não é da criança. A responsabilidade é dos pais que hesitam em corrigir ou receiam impor limites. Ensinada, toda criança aprende.
Educar é preparar uma criança para enfrentar as diversas situações na vida. Todo genitor sabe que, por mais que deseje, nem sempre estará por perto para ajudar ou proteger. O pressuposto básico, portanto, em todo processo educativo, é ensinar a fazer opções. Aprender a decidir por si. Fundamental, neste processo, é o ensinamento de valores. Por inclinação natural, todo ser humano é egocêntrico. Ensinar valores, portanto, representa orientar uma criança a alargar seu horizonte de percepção. Fazê-la perceber que não é somente ela que tem direitos. Os outros também têm. Ninguém, portanto, se realiza isoladamente, ignorando os outros. À clareza de conceitos segue-se, naturalmente, a solidez nas posturas. Não basta transmitir valores é preciso convencer a praticá-los. Ser firme não é o mesmo que ser tirano. É saber impor-se pela moral, pela serena convicção, não pela prepotência. Educar exige coerência! É saber resistir, com corajosa e serena intransigência, aos conhecidos e previsíveis apelos chantagistas. Paulatinamente, a criança aprende que em determinadas situações não adianta apelar. Valores fundamentais não admitem concessões! Agir com firmeza, não hesitar em dizer não quando for necessário, não somente não abala a autoestima, como, ao contrário, edifica progressivamente o caráter da criança, ensinando-lhe a reconhecer e respeitar limites. Nem tudo convém, mesmo que seja possível!
A atual cultura consumista, com seus atraentes e sempre mais sofisticados brinquedos, embasada em uma traiçoeira facilidade de crédito, insinua que a felicidade se resume a uma senha capaz de satisfazer os mais fantasiosos sonhos de consumo. Além do previsível desperdício e acúmulo de bugigangas, esse frenesi consumista acentua perigosamente o egocentrismo. Reforça agudamente a inerente tendência humana de abominar privações e livrar-se de desconfortos. É natural querer evitar sofrimento. Igualmente compreensível é fugir da dor. A vida, contudo, tem seus contratempos e reviravoltas. Nem tudo acontece do jeito que a gente programa e é preciso estar preparado para, quando surgirem os reveses, o ânimo não se abale e a mente não perca o equilíbrio. Previdentes, os pais intuem que é preciso preparar os pequenos a enfrentar e lidar com imprevistos. Motivar a criança a fazer voluntárias e periódicas renúncias é uma maneira sábia de prepará-la a viver tanto na penúria como na fartura. Orientadas abstinências adicionam, imperceptivelmente e sem alarde, valioso avanço: separar o útil do fútil! Disciplinar apetites contribui decisivamente para um saudável autocontrole, como também para um almejado amadurecimento de personalidade.
É natural que os pais queiram sempre o melhor para os filhos. Desdobram-se heroicamente nesta tarefa. Urge, contudo, lembrar que a mais preciosa herança a ser legada aos filhos não é assegurar-lhes um confortável patrimônio – bens materiais são sempre volúveis. O legado maior, sem data de vencimento, é prepara-los para a vida. Quem ama, educa. Quem educa, poda!
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