Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
sábado, 30 de junho de 2018
SUJEITO
SUJEITO
“Não consigo me satisfazer”! Este bordão, cantado por Mick Jagger e repetido, histericamente, por multidões de coros, é considerado verso emblemático da cultura atual. Retrata com precisão poética o difuso sentimento subjacente ao atual mau humor que contagia variadas gerações. A jovem que urra na rua no meio da noite, o rapaz que chuta raivoso a latinha de refrigerante, entre tantas outras manifestações estúpidas e inconsequentes, ilustram a triste realidade de uma humanidade desencantada. No atual estágio de formidável progresso tecnológico, o ser humano, paradoxalmente encontra-se desapontado com seu mundo e desiludido com sua própria história. Nem o que é apresentado como solução fácil – drogas, sexo, consumo – resolve. Nem a religião! Aflige ver pessoas – jovens, especialmente – procurando algo que preenchesse o existencial vazio. Que desse sentido, satisfação, na vida.
Intriga como nem a religião consegue cumprir sua fundamental razão de ser. O termo religião designa processos de ligação, de aproximação. Sua finalidade principal se resume em religar as pessoas à divindades e entre si. Curioso, muitos de nossos templos andam razoavelmente frequentados. Imagina-se, pois, tratar-se de pessoas resolvidas. Espera-se delas que espalhem bem estar em seus ambientes de convívio social. No entanto, apesar do considerável numero de praticantes, o contexto social permanece perturbado, claro indicativo que entre eles também persiste difuso desencanto! O desacerto, portanto, é mais dramático! Se nem a religião consegue atingir sua fundamental proposta, é porque equívocos graves acontecem. Na análise das celebrações emerge um dado curioso: os rituais estão ficando cada vez mais ruidosos, explorando o emocional e prometendo soluções rápidas para problemas individuais. Este compasso utilitário de procura e de oferta, próprio à cultura atual e infiltrado nas liturgias, descaracteriza a essência da religião e aliena as pessoas de realidades mais contundentes. Muitos dos desafios individuais refletem e seguem o geral desacerto da sociedade. A desorientação da sociedade provoca estragos no cotidiano particular. Ilusão pensar em soluções individuais se o tecido social permanecer esgarçado. Liturgias centradas em cantorias e curas atraem e emocionam, mas não respondem à anseios mais profundos. Urge, primeiro, resgatar o coletivo, caso se queira efetivamente eliminar sofrimentos pontuais. Resgata-se dessa forma a principal função da religião, a redenção da humanidade. Cultua-se verdadeiramente a Deus quando se aprende a enxergar o semelhante. Glorifica a Deus quem ergue o semelhante! Celebrações e cultos que não geram profetas não passam de piegas coreografias. Aquietam consciências, mas não ajustam rumos nem enfrentam desafios. Satisfazem preceitos como se imposto obrigatório fosse, sem gerar alegria transformadora.
Profetas, mais que devotos, é que a religião precisa oferecer ao mundo. Ao insistir na dimensão missionária, o Mestre Jesus deixa claro, o que mais espera não são tanto templos cheios, mas seguidores que assumem, com corajosa serenidade, a tarefa de transformar o mundo, tornando-o lugar de feliz, saudável e digno convívio. Emerge a resposta para a generalizada insatisfação entoada por Mick Jagger: a satisfação não está em receber. Vive-se realizado a medida que se dispõe a oferecer algo de objetivamente benéfico à coletividade. O estar segue o realizar. O desfrute segue o labor! Este é o principal propósito da religião, abastecer o mundo com profetas empenhados em ajudar o homem a redescobrir sua inata vocação de ser sujeito gerador de vida e não mero receptor de satisfações.
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