
Religião consola! Não no sentido de entorpecer, maquiando a realidade. Consola porque fortalece. E ajuda a amadurecer! A angústia maior, quando se defronta com o inesperado sinistro, é a sensação de impotência. Percebe-se frágil diante de situações adversas. Esta sensação de inferioridade costuma provocar pânico mental e desequilíbrio emocional. Descontrolada e agindo por impulso a probabilidade de a pessoa complicar mais o quadro aumenta consideravelmente. A sensação de impotência pode, inversamente, induzir a aceitar resignadamente situações adversas. Passivo diante de fatalidades, o sujeito reduz sua capacidade de reação, abrindo espaço para a perda da autoestima. Na atual cultura que privilegia o sucesso subjetivo, é previsível a vulnerabilidade diante de tensões e desafios. Muitos se obrigam a viver sobrecarregados. Lutam bastante, mas ao constatar os parcos avanços, reduzem as perspectivas. Amargura a sensação de estar trabalhando em vão! Esta cruel realidade, que impõe palpáveis êxitos, provoca, previsivelmente, fadiga emocional, abreviando o caminho para a depressão. Visto como ameaça, o futuro amedronta!
Soluções fáceis e rápidas não há. Requer-se, normalmente, empenho, perseverança, paciência. Acima de tudo, discernimento! Tratando-se de predicados que exigem serenidade e disciplina, não são poucas as pessoas que optam por encontrar soluções em ‘mercados paralelos’. Um marketing distorcido pode projetar a religião como um dos desses refúgios mascarados. É demasiadamente ingênua a pessoa ao imaginar que um determinado ritual ou um específico ministro religioso possuem o poder de reverter magicamente situações adversas. Sem critério e bom senso a fé não passa de crendice. Milagres não acontecem em série, nem cabem em esquemas programados! É triste ver a banalização do sentimento religioso. Aflige ver a manipulação da boa vontade das pessoas. Indigna a exploração oportunista da ignorância! Revolta a espetacularização de supostas intervenções divinas. Lamenta-se ver pessoas deixando-se doutrinar por impostores!
Aos que andam sobrecarregados, e continuam sendo tantos, Jesus convida a aproximarem-se dele. ‘Venham a mim’! Eis a essência da religião: o encontro com o divino! Respeitoso redentor, Jesus não promete vida fácil. Nem abole fardos. Assegura, porém, aliviar o peso, pois promete caminhar junto ao aflito. Ao colocar-se ao lado do sofredor, Jesus já opera o ‘primeiro e fundamental milagre’, devolve a autoestima. A sensação do abandono abate mais que a dor física. A dor é sempre muito pessoal e induz, invariavelmente, à solidão. Ao chamar à sua intimidade, Jesus oferece acolhida, compreensão, companheirismo. Coloca-se ao lado na condição de amigo, manso e humilde. Oferece, em suma, atenção. Remédio imediato para todas as dores não há, especialmente quando a dor é da alma! Ao saber-se, contudo, sinceramente amada e reconhecendo-se genuinamente amparada, a pessoa fatigada encontrará com maior facilidade aquele ânimo para recorrer ás suas reservas de energia. É esta presença solidária que opera o grande e verdadeiro milagre, pois devolve paulatinamente ao sofredor a condição de ser sujeito da própria história. Isto é ser Igreja: comunhão, solidariedade, fraternidade! Se é verdade que não há alívio imediato para todas as dores, é, igualmente, verdade que muitas das soluções para os inevitáveis infortúnios encontram-se na própria reserva do ser humano. A pessoa é maior que seus desafios!
Consola a religião, porque induz a pessoa a acreditar em si! A reconhecer sua inerente potencialidade. A ficar de pé, em suma! E isto que mais glorifica a Deus, ver sua amada criatura de pé! Derrotas e revezes continuam existindo, integram a contingência da vida. Sem a força, todavia, de derrubá-lo por completo, pois, para o genuíno crente, a dor, quando aparece, sempre vem com data de vencimento!
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