
CAVERNAS
Festejou-se o resgate dos adolescentes tailandeses! Justificadamente! O mundo acompanhou tenso e atento o desenrolar das operações de salvamento e respirou aliviado quando chegou, finalmente, a notícia que todo o time dos Javalis Selvagens, mais o técnico, estavam salvos. A epopeia destes meninos rivalizou com os jogos da copa do mundo, e, em alguns, momentos superou até a torcida futebolística. Salvar vidas permanece valor soberano! Outro fator formidável foi a colaboração oferecida por 1300 pessoas, entre técnicos, engenheiros, mergulhadores e voluntários advindos de várias partes do mundo! Simbolicamente, o mundo se uniu na heroica empreita de tirar os meninos do insalubre fosso. Nenhum esforço foi dispensado na decidida missão de resgatar os adolescentes! Justifica-se amplamente a euforia quando operações de salvamento em situações adversas e delicadas terminam com êxito!
É particularmente saudável quando crianças ocupam as manchetes dos noticiários. O olhar atento sobre a realidade do mundo, em especial sobre o mundo infantil e adolescente, impõe, a propósito, indigesta questão: por que cidadãos e autoridades se calam ou se omitem diante de tantos jovens e crianças presos em outras cavernas, igualmente tenebrosas, espalhadas pelo mundo? Aflige ver crianças e adolescentes sendo obrigados a largar os estudos para trabalhar. Outros tantos, permanentemente assediados e iniciados no vício do alcoolismo, prostituição e dependência química. Muitos outros, fascinados pela parafernália eletrônica e midiática, impossível de ser satisfatoriamente acompanhada, sucumbem em obsessiva dependência. Como não se afligir diante do tráfico de menores, diante das desumanas situações de migrantes e refugiados! Com perplexidade se acompanha a articulada campanha em favor do aborto! Se é verdade que a maneira como se cuida de crianças revela a maturidade psíquica e emotiva de uma nação, então é preciso, de fato, parar para refletir e analisar. Nenhuma sociedade ou organização pode ficar indiferente diante de tão graves ameaças que intentam contra a integridade física e moral de crianças e adolescentes.
Na família, célula primária da sociedade, ainda se percebe, com nitidez, o saudável envolvimento com as crianças. Desdobram-se os pais em garantir a seus pequenos, vida digna, ensino de boa qualidade, formação de caráter, saudável ambiente social. Não se pode, todavia, esquecer que nenhuma pessoa, ou classe de cidadãos, consegue, isolada, viver dignamente e por longe tempo. Se o entorno é contaminado, a probabilidade desse contágio invadir os núcleos familiares permanece seriamente ativa. Cercas e muros não conseguem blindar crianças. Nem aconselhável é mantê-los isolados do mundo! O caminho, portanto, para garantir uma consistente e digna sobrevivência, é juntar forças e disponibilizar aptidões para não permitir que crianças enveredem, atraídas por emoções aventureiras, em traiçoeiras cavernas. Sempre persiste a trágica presunção de poder fazer por conta o caminho de volta. A real dificuldade aparece quando se decide retornar à superfície. Imprevistas circunstâncias costumam revelar graus de complicações. O que se imaginava fácil acaba demonstrando o real grau de impotência e a aguda necessidade que se tem de ajuda externa! Situações limites expõem a tolice da pretensão! A epopeia dos Javalis Selvagens mostra, para quem quer ver, que entrar numa caverna, em busca de aventura, é fácil e divertido. Difícil e complicado é sair. Custoso, demorado e traumatizante. E mesmo quando se triunfa, ainda resta o perigo de algum distúrbio lesionar indelevelmente a saúde psíquica e emotiva do aventureiro.
O drama dos jovens tailandeses é oportuníssima advertência! Descuidos, mesmo não intencionais, facilitam o ingresso de crianças e adolescentes em traiçoeiras cavernas subterrâneas. Prevenir continua sendo o caminho menos traumático. Imprescindível é manter o assunto criança em manchete, estimula a vigilância, promove a cooperação!
Nenhum comentário:
Postar um comentário