sábado, 29 de setembro de 2018

PILATOS

Em época de eleições não se pode brincar de Pilatos! A advertência vem do Papa Francisco, em um discurso dirigido a um grupo de leigos italianos! O conselho do pontífice, retomado por D. Sérgio, bispo diocesano em sua carta pastoral sobre as eleições, não podia ser mais oportuno, dado o clima de incerteza que cerca o próximo pleito. A complexa e conturbada conjuntura nacional aliada à difusa sensação de desconfiança na classe política, estão induzindo a um bom número de cidadãos a cogitar sabotar as próximas eleições. Quer esta gente manifestar seu profundo descontentamento com a desanimadora ausência de confiáveis lideranças, votando em branco ou mesmo anulando o voto. Compactua-se com a desilusão. Contudo, a serena reflexão convence que não é com a omissão que se moralizam parlamentos e administrações. Platão já advertia, no seu tempo, que o cidadão que recusa envolver-se na política, paga um preço muito caro, pois acabará governado por desqualificados dirigentes. A sensatez desta advertência fica evidente ao reparar a quantidade de políticos que pleiteia reeleição. Essa turma não descansa, agrada e patrulha com insistência suas bases eleitorais, decidida em manter seu mandato. Últimos levantamentos dão conta que a previsão de renovação no Congresso – deputados federais e senadores – não deve ultrapassar os 30%. O que quer dizer, em termos concretos, que o país continuará dependendo de um parlamento predominantemente fisiológico, condicionado a uma tabela de vantagens. Ilusão é pensar que o dirigente eleito concentrará totais poderes. O poder, na realidade, e é bom que seja assim, é compartilhado. Sem Congresso digno e decente não haverá esperança de retomada consistente de progresso! Ciente desta elementar verdade, e compenetrado de legitimo espírito cívico, um grupo de cidadãos lançou oportuna campanha pelas redes sociais, buscando conscientizar a população acerca da urgência de renovar o Congresso. É imprescindível renovar o Congresso, prega a campanha. É possível alcançar este propósito, desde que seja pelo voto! Democracia se faz pelo voto, pela participação popular. Transformações consistentes não acontecem por decreto. Nem com truculências. Muito menos com valentes arroubos! É preciso estar atento para não se deixar impressionar por discursos demagógicos que exaltam mais a valentia que a razão. É bom que se recorde que os notáveis estadistas que marcaram presença na história privilegiavam ideias à força. Cuidaram mais de convencer que de impor. Buscaram mais consenso que divisão. Investiram mais no diálogo que na truculência! Urge, sim, diminuir o foco nos candidatos à presidente/governador e mirar mais o Congresso. Urge convencer amigos e colegas que sem decente e digno Congresso não haverá esperança fundada de retomar consistente progresso. Outro movimento, igualmente compenetrado da necessidade de renovar o país, espalha pelas redes sociais a campanha “eleição sem truque”. Convoca o eleitor a analisar as propostas dos candidatos com a mesma atenção com que se leem as recomendações que acompanham produtos alimentícios ou mesmo bulas de remédios. Deixar-se conduzir apenas pelo que o produto promete, sem reparar nas possíveis contraindicações ou efeitos colaterais é cair num gravíssimo erro. Não somente se desperdiça dinheiro, como também pode se incorrer em sérios prejuízos à saúde própria ou de seus amados. Em época de eleição é preciso tomar cuidado com discursos falaciosos. Bravatas são comuns em campanhas eleitorais. Mexem com sentimentos, atiçam brios, obcecam. É preciso sempre avaliar prováveis contraindicações, camuflados riscos, para não cair num conto enganoso. A posterior decepção costuma ser bastante indigesta, como bem demonstram recentes eleições! Entra-se em uma semana decisiva. O destino do país está nas mãos de cada cidadão. O voto expressa o que de mais profundo se deseja para o país. Cada voto é sagrado! Tem peso e conta! De fato, não é hora de brincar de Pilatos.

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