
Em Córdoba – Espanha - visitei o museu da Inquisição! Senti-me mal, confesso, vendo os cruéis instrumentos de tortura usados em nome de Deus com a arbitrária presunção de preservar a ortodoxia da fé e a decência dos costumes! Outros eram os tempos, é verdade, e outros os conceitos. Contudo ... Caminhando pelas salas, pedi perdão por tanta atrocidade cometida em nome de um Deus que sempre quis ser conhecido por sua rica misericórdia e amado por sua inesgotável tolerância. Idêntico sentimento de vergonha e de abatimento fere a alma cristã ao acompanhar as escabrosas reportagens sobre abusos contra crianças cometidas por clérigos ao redor do mundo. A indignada censura contra a Igreja é justificada. Membros seus violaram inocentes a quem deveriam educar e proteger! Assim como a triste página da Inquisição, esses abusos cometidos contra crianças e vulneráveis mancham a imagem da Igreja de Jesus Cristo. Enojados e desiludidos, muitos fiéis abandonam a Igreja. Não acreditam mais nela. Espalha-se, é preciso reconhecer, uma sombra de desconfiança sobre todos os ministros religiosos e suas atividades, em especial quando envolvem menores. Admitir que o elemento humano é falho, que padres e freiras são frágeis vasos de barro, é correto, mas, convenhamos, não consola ninguém nem ameniza a gravidade dos abusos. Como na época da Inquisição, a atual sequência de escândalos induz a imaginar que a barca de Pedro está à deriva. Perdeu o rumo!
A redenção vem pelas obras! O momento não é para justificativas nem apologias. O sinal de um sincero arrependimento acena para uma correção de atitudes! A hora não é para abdicar tarefas, mas, sim, retomar com responsabilidade e genuíno empenho missionário a obra de evangelizar, inclusive crianças. A evangelização se fundamenta primordialmente na fé. Proclama-se porque se acredita na verdade anunciada. A motivação evangelizadora se inspira e se sustenta na convicção de que as verdades anunciadas por Jesus Cristo permanecem integralmente benéficas para a alma humana. O que mantém viva e criativa a ação missionária e catequética é a serena consciência de se estar prestando imprescindível serviço ao semelhante. Não se catequiza para aparecer, nem para agradar. Muito menos pensando em trazer de volta adultos decepcionados e crianças desiludidas. Anuncia-se porque acredita-se no intrínseco valor da mensagem transmitida. Esta convicção demanda radical fidelidade às verdades evangélicas. Impõe, igualmente, integridade de conduta! É Jesus e suas verdades que precisam aparecer, não o mensageiro. Não é a eloquência da retórica que convence, mas a probidade do mensageiro. E são muitos os agentes que honram sua vocação. Há transgressores – e sempre haverá, lamentavelmente – mas são em número bem maior os que se dedicam com ardor e paixão às suas tarefas educadoras. Anônimos, fora das manchetes, missionários e missionárias mantêm viva a chama do evangelho. Dedicam-se com paixão, carinho e abnegação a servir seus irmãos, inclusive crianças. Não são notícia, porque o que ganha manchete é o impacto, em especial, o escândalo. Esses, apenas, trabalham com denodo! Esses anônimos operários são os que se agarram aos remos e, movidos por um transcendente ideal remam vigorosamente, evitando que a barca de Pedro perca o rumo ou naufrague nas violentas tempestades que periodicamente a ameaçam.
É pelo bem que se combate o mal! É pela luz que se dissipam as trevas! É importante e honesto que a Igreja assuma seus erros e peça perdão por seus pecados! Mais urgente, todavia, é reparar o mal causado. Frente às crueldades da Inquisição, que se porte na vanguarda da tolerância e da acolhida. Frente aos abusos contra menores, que se dedique com paixão na educação dos pequenos e na defesa intransigente de valores que assegurem seu digno e feliz amadurecimento!
Nenhum comentário:
Postar um comentário