
É tradicional, no início de cada ano civil, o Papa envia a todos os lideres do mundo, como também a todas as pessoas de boa vontade, uma mensagem que tenha a paz como assunto principal. Este ano, o Papa Francisco escolheu focar, como tema, a política colocada a serviço da paz. Seguem mais alguns trechos da mensagem.
A par das virtudes, não faltam infelizmente os vícios, também na política. Estes vícios são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos –, a justificação do poder pela força, a tendência de perpetuar-se no poder, a xenofobia, o racismo, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro.
Quando o exercício do poder público visa apenas salvaguardar os interesses de certos indivíduos privilegiados, o futuro fica comprometido e os jovens podem ser tentados pela desconfiança, por se verem condenados a permanecer à margem da sociedade, sem possibilidades de participar num projeto para o futuro. Pelo contrário, quando a política se traduz, concretamente, no encorajamento dos talentos juvenis e das vocações que requerem a sua realização, a paz propaga-se nas consciências e nos rostos. A política fica a favor da paz, se se expressa no reconhecimento dos carismas e capacidades de cada pessoa.
Nestes tempos, vivemos num clima de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também, a nível político mediantes atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa.
Cem anos depois do fim da I Guerra Mundial experimentamos que a paz não pode jamais reduzir-se ao mero equilíbrio das forças e do medo. Por esta razão, reiteramos que a escalada em termos de intimidação, bem como a proliferação descontrolada das armas são contrárias à moral e à busca duma verdadeira concórdia. Deve-se afirmar que a paz se baseia no respeito por toda a pessoa, independentemente da sua história, no respeito pelo direito e o bem comum, pela criação que nos foi confiada e pela riqueza moral transmitida pelas gerações passadas.O nosso pensamento detém-se ainda e de modo particular, nas crianças que vivem nas zonas de conflito e em todos aqueles que se esforçam por que a sua vida e os seus direitos sejam protegidos.
A paz é uma conversão do coração, da alma, sendo fácil reconhecer três dimensões indissociáveis desta paz interior e comunitária: a paz consigo mesmo, rejeitando a intransigência, a ira e a impaciência – a paz com o outro, o familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, o atribulado – a paz com a criação, descobrindo a grandeza do dom de Deus e a parte de responsabilidade que compete a cada um de nós, como habitante deste mundo, cidadão e ator do futuro.
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