
CASTIDADE
Convocada pelo Papa Francisco, acontece em Roma uma grande assembleia reunindo representantes de todas as Conferências Episcopais para debater o escândalo da pedofilia na Igreja Católica. Prelados do mundo inteiro participam do que o Papa classifica como um encontro para, em clima de oração, reconhecer e tomar posição diante do grande desserviço que membros da Igreja prestaram ao abusar da sua ascendência religiosa para ferir a inocência de gente pequena. Em estreita relação com a dolorosa questão, aborda-se igualmente o não menos censurável procedimento de encobrir fatos e proteger corporativamente transgressores. O Papa classifica esta abordagem como clericalismo, e a coloca como uma das raízes mais perniciosas a encobrir a atual sucessão de escândalos. Ao omitir-se, a autoridade eclesiástica favorece a prática do abuso. Segundo os organizadores, o encontro não abordará o problema de forma meramente protocolar. Na condição de pastores, querem ouvir relatos de gente agredida com o propósito de elaborar um código de conduta em condições de oferecer transparência e rigor nos casos denunciados. Coerentemente, está programada, para o final do encontro, uma oportuna celebração penitencial. Os bispos presentes, representando toda Igreja, reconhecerão o mal praticado e pedem perdão a Deus e à sociedade pelo sofrimento causado. Observadores alguns reagiram com ceticismo diante da iniciativa do gesto penitencial. É simplório demais pedir perdão! Esquece-se que no sentido evangélico, o pedido de perdão não visa somente a absolvição. Mira a cura, a renovação, a radical mudança de conduta ... vai e não peques mais ... foi com esta recomendação que Jesus despediu a mulher adultera. Pede-se perdão porque se pretende proceder a uma radical transformação, envolvendo abordagem e prevenção. Quando o mal causa danos – morais, psicológicos ou patrimoniais – o pedido de perdão embute também obrigações de reparação. Seguiu-se por um longo tempo uma abordagem reconhecidamente equivocada. Escondiam-se os abusos na tentativa de preservar a instituição e resguardar os faltosos. Ao mudar o paradigma e assumir os erros, a Igreja entende aproximar-se mais ao ideal evangélico. Ao reconhecer seus erros, penitencia-se buscando a conversão. Confessando sua culpa apressa o caminho da justiça e adestra na prevenção.
Lamentavelmente, a praga da pedofilia não será banida do mundo, nem da Igreja! É um distúrbio comportamental com graves consequências sociais. Vidas são destruídas por gente que usa mal sua autoridade e sua influência. Quando envolve pessoas ligadas à Igreja, o abuso adquire dimensões dramáticas. De gente de Igreja se espera condutas edificantes. Confiam-se os pequenos aos cuidados de pastores e leigos responsáveis, na confiança de que receberão uma sólida formação moral. Diante dos abusos, é a confiança que se abala, e é este o mal maior provocado. Pois emerge a cruel dúvida quanto a quem ou em que se pode confiar. Se nem a Igreja inspira confiança, a situação fica realmente dramática. Felizmente, genitores há que sabem separar o trigo do joio. São muito mais numerosos os agentes, tanto entre o clero como também entre leigos engajados, que se dedicam heroicamente para dar às crianças e aos jovens orientações e exemplos de vida, fundados em retos princípios morais.
Basicamente, pedofilia é assunto de castidade, a virtude que orienta respeitar o outro e a si próprio. Pouco se fala da castidade nesses tempos modernos de liberação de costumes e de exaltação ao erotismo. A genuína castidade, longe de castrar, depura amizades e subleva namoros. Qualquer relacionamento que dispensa a reverência como primordial moderadora, facilmente se degenera em agressão, dominação, profanação!
Nenhum comentário:
Postar um comentário