
ORIGINAL CIVILIZAÇÃO
Incorrigíveis são as mães! Pais, idem! Avós, então, nem se fala! Encanta, e diverte, ouvi-los comentar os bons predicados de filhos e as realizações dos netos! Enaltecem virtudes com despudorada desenvoltura e minimizam falhas com espantosa condescendência! Deliciam-se ao ouvir elogios, e quando, por ventura, alguém ousa não reconhecer méritos nos filhos, fazem questão de desfiar loas. Por outro lado, defendem com ardor quando alguém se atreve apontar falhas e censurar! Simplesmente, não admitem críticas vindas de estranhos! Reservam para si a exclusividade de chamar atenção, pois, afinal, ninguém como eles sabe corrigir com exigente amor! O amor enxerga bondades e virtudes imperceptíveis a leigos olhares. E guarda inesgotáveis reservas de compaixão e perdão. Filho é filho, e ponto!
Pais/avós representam a palpável referência do encanto divino pela criatura humana! Ao contemplar o ser feito à sua imagem e semelhança, inserido como coroa no grande contexto da criação, Deus suspirou e viu que tudo o que tinha feito era muito bom! Intrinsecamente bom é o ser humano! Aos olhos de Deus, essa criatura chamada homem/mulher, é essencialmente boa, bela, portadora de inumeráveis qualidades. Tem limitações, sim, mas o Criador reserva para si o direito de corrigir do jeito que considera mais apto para curar e salvar. Profundamente se magoa, em sua condição de Pai apaixonado, quando vê sua criatura predileta sofrer maus tratos e é sumariamente desprezada. Curioso, há gente que fica incomodada quando alguém, inspirado no amor divino, sai em defesa de seres humanos flagrantemente humilhados, enquanto entende, e até elogia, a superproteção oferecida por pais e avós. Nunca se pode, afinal, esquecer que, com aguda lógica, o preceito bíblico primeiro, referendado posteriormente por Jesus Cristo, orienta amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Segundo o ordenamento divino, é simplesmente impossível reverenciar o Criador sem respeitar sua privilegiada criatura. Assim como na lógica humana não se cogita amar pais sem querer bem a filhos, na esfera religiosa Deus estabeleceu ser impensável reverenciá-lo sem respeitar a sua amada criatura: tudo o que é feito ao mais insignificante próximo Deus considera como feito a si!
Os benefícios práticos desta elementar lógica, quando aplicada para o cotidiano, são evidentes. É incomensurável o sofrimento que pode ser poupado quando se olha o semelhante com o olhar divino. Encontra-se aqui a chave capaz de dar à história novos e libertadores rumos! Contam-se em milhões as pessoas que regularmente leem a Bíblia e professam crer e amar a Deus! Contam-se em milhões os fiéis que a cada domingo lotam igrejas, celebram os mistérios divinos e comungam ate o Corpo e o Sangue do Filho divino, entregues para a salvação do homem! Quando, contudo, se contempla a realidade do cotidiano, é se obrigado a reconhecer a abissal distância entre fé e vida! Professa-se crer em Deus e afirma-se amá-lo, enquanto vive-se, cinicamente, ignorando seu mais básico desejo! A Bíblia chama de mentiroso o sujeito que afirma amar Deus, mas vive de costas para o seu semelhante Tem se comentado ultimamente quanto ao fenômeno recorrente do distanciamento de fiéis das igrejas! Elaborados estudos são apresentados na tentativa de explicar o incômodo fenômeno. Explicações válidas, em sua maioria. No entanto, a explicação primordial emerge quando se leem as narrativas que descrevem a vida das primeiras comunidades cristãs. Aquelas comunidades, primitivas e despojadas, atraiam adeptos não em função de elaboradas liturgias, nem pela visibilidade de celebrações ruidosas e coreografadas, nem pelo impacto de curas milagrosas, mas unicamente pelo testemunho da caridade fraterna vivida espontânea e radicalmente. Celebravam a Eucaristia e viviam eucaristicamente!
Autênticas referências são mães, pais e avós quanto à pétrea verdade: o amor ao genitor envolve necessariamente respeito profundo pela prole! Transferir esta lógica para a moral religiosa gera necessariamente nova e original civilização de amor!
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