sábado, 9 de março de 2019

ENERGIZADO

‘Não deixe de fazer a revisão’! É a insistente recomendação que o comprador de um novo carro ouve do seu vendedor! Tem consciência, caso ignore a obrigação, dos sérios prejuízos possíveis para os usuários como também para a máquina. Responsável, o diligente motorista atende à solicitação. Entende e aceita, inclusive, passar pelo passageiro desconforto de ficar por algumas horas sem o carro, em vista de um melhor rendimento da máquina como também de garantir maior segurança para si e para eventuais companheiros de viagem. Periódicas revisões são igualmente recomendadas para quem deseja levar uma vida saudável. Tanto na área física, como no campo espiritual, o ser humano necessita periodicamente submeter-se à revisões. Lamentavelmente, observa-se que, enquanto as recomendações a respeito das revisões dos carros são levadas a sério e cumpridas, às relativas à saúde física e espiritual são, frequentemente, negligenciadas. Coloca-se, imprudentemente, em perigo a própria saúde integral. O tempo da Quaresma é a época mais propícia para realizar uma proveitosa revisão espiritual. Com o definido objetivo de alcançar um patamar mais aprimorado na condição de discípulo. Assim como acontece com a revisão do automóvel, o sujeito precisa dispor-se a ficar algumas horas privado de certos confortos. No caso da revisão espiritual, a oficina recebe o nome de deserto. Na Bíblia, o deserto representa o lugar privilegiado onde a pessoa pode encontrar-se consigo mesmo e com Deus. Sem ruídos e livre de interferências, o sujeito se recolhe, voluntária e propositalmente, para analisar a própria conduta à luz das exigências do evangelho. A liturgia cristã sugere tradicionalmente três referências principais para realizar, proveitosamente, essa revisão: analisar a vida de oração, caprichar na disciplina e aprimorar a prática da fraternidade. Orar essencialmente representa encontrar-se com Deus! Ora-se de verdade quando se estabelece com Deus fecunda comunhão. Na Quaresma o fiel é chamado a operar ajustes pontuais na sua vida de oração. Descobre-se que frequentemente as orações são feitas com pressa, sem a devida atenção. Reconhece-se a presença de distrações e a subsequente superficialidade na hora de orar. Sem uma prática de oração intensa e qualificada, a vida espiritual murcha e o fiel fica muito vulnerável diante da agressiva petulância de valores profanos. Salta o segundo exercício preferencial do tempo da Quaresma, a disciplina, ou o jejum, para usar o termo tradicional. Na Bíblia, o jejum não possui a característica subtrativa a que tradicionalmente é associado. Ao contrário, é entendido como exercício de iniciativas concretas em vista de um revigoramento espiritual, incluindo o coerente descarte de hábitos incompatíveis com a identidade de discípulos. Referência última para uma regeneradora revisão foca a prática da fraternidade. A saúde espiritual, tanto no campo individual como comunitário, sustenta-se fundamentalmente na prática da caridade fraterna. Não se pode estar em comunhão com Deus sem estar, igualmente, em sintonia com o semelhante. Sem progresso constante na caridade não há aprimoramento na condição de seguidor de Cristo. Neste quesito, uma objetiva análise, aponta urgentes ajustes, com a indispensável troca de ‘peças’ e ‘filtros’. Revisões são necessárias. Envolvem custos e implicam desconfortos. Os benefícios, todavia, compensam! Neste tempo da Quaresma, a Igreja renova o apelo para que o fiel submeta-se voluntariamente a uma apurada revisão espiritual. Sairá da oficina quaresmal renovado e espiritualmente energizado!

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