
Tem fim a maldade? A angustiante questão tortura a alma humana a cada absurda tragédia que pasma a sociedade. Pensadores e filósofos debruçam-se sobre a questão tentando formular explicações convincentes para a dolorosa realidade. A diversidade de opiniões apresentadas serve para confirmar tratar-se de um desafio existencial de difícil, embora, igualmente, de urgente encaminhamento. Sem resposta satisfatória, o ser humano cai na indiferença apática ou no desespero.
A religião cristã, inspiradora de uma linha de pensamento, oferece abordagem envolvente. Sua perspectiva embasa-se na original relação entre o ser humano e o Criador. Em linguagem figurada, a Bíblia apresenta os primeiros seres humanos em ambiente totalmente harmonioso. No projeto de Deus, o ser humano existe para viver feliz, na fartura, sem conflitos. Cabe-lhe apenas respeitar a divina hierarquia, representada pela única ordem de não mexer na árvore da vida. Entra em cena, neste idílico cenário, a figura de um tentador, disfarçado em astuta serpente. Insinua o tentador que se o Homem desafiasse a ordem divina, ignorando a controversa recomendação, não somente não provocaria desgraças, como alcançaria uma soberana independência. Igualar-se-ia ao próprio Criador. Considerando a árvore de atraente aparência e seu fruto insinuando sabores apetitosos, o ser humano sucumbe à sugestão e viola o pacto estabelecido. Ao ignorar a ordenança divina, o ser humano causa e conhece a desordem em todos os níveis de relacionamento, espiritual, pessoal, social e cósmico. A harmonia original dá lugar ao medo. Desorientado e confuso, segue o homem ignorando Deus e dando preferência ao que lhe parece mais fácil e atraente. Regido por sua arrogante petulância, o ser humano provoca destruição quando imagina estar construindo, desgoverna quando posa de articulador, amplia sofrimentos quando ostenta econômicas conquistas. O cruel e progressivo abismo que separa os poucos privilegiados das multidões miseráveis comprova o total fracasso da petulância humana. Quando Deus é ignorado, observava Dostoievsky, instala-se a desordem! Sem Deus, a desesperança!
Emerge, espontaneamente, a proposta cristã com real potencial para fazer frente e reverter a insana corrente de sofrimentos provocados por mãos humanas. Se o pecado originou-se na rebeldia humana à vontade divina, a recuperação da harmonia passa, compreensivelmente, pela livre submissão ao Criador! A Bíblia chancela esta verdade, destacando o confronto direto entre Jesus Cristo, o restaurador, e o mesmo diabo que iludiu os primeiros pais. No emblemático embate no deserto, o que estava realmente em jogo era a identidade do Messias. Segundo os evangelistas, Jesus acabava de ser declarado Filho amado de Deus, ao ser batizado por João Batista. É justamente a fidelidade a esta filiação divina, paralela à de Adão e Eva, que estava sendo posta à prova. O astuto tentador em momento algum insinua a Jesus que devesse abdicar da sua condição filial. Sugere, apenas, que a manifeste do jeito que o povo entende e valoriza, fazendo milagres, entregando-se a soluções mirabolantes, servindo-se das facilidades e vantagens que o mundo oferece. A cada insinuação, o Filho de Maria reiterava sua incondicional fidelidade ao Pai Eterno. Insistia em sua submissão inconteste aos desígnios do Criador, repetindo a premissa: diz a Palavra. Culminando, no fim, com a solene profissão programática: Somente ao Senhor Deus se deve adorar e servir! O pecado, com suas nefastas consequências, começa a ser vencido, com a livre adesão à vontade divina.
O mal se propaga porque o homem opta desalojar Deus para ocupar ele mesmo o centro das decisões. Pôr Deus de lado é a insana obsessão do ser humano, apesar das maldades resultantes. Inicia-se a reversão do nefasto processo quando se aprende, com o Senhor Jesus Cristo, a reconhecer, livre e conscientemente, a soberania divina. Quem acredita, curva-se! É a mais apaixonante declaração de amor pela humanidade!
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