
O absurdo massacre em Suzano continua provocando ecos. Com razão. Gratuitas e letais ocorrências em outras bandas do mundo, passam a suceder-se em nosso país, inclusive em cidades interioranas, consideradas pacatas e pacíficas. A segurança e a tranquilidade evaporam-se, deixando pais, educadores, autoridades e cidadãos assustados e perplexos. Na comoção do momento levantam-se várias hipóteses na tentativa de explicar o desumano ato: a facilidade de adquirir armas de fogo, a deletéria influência da internet, o bullying. A imprevisibilidade desse tipo de ocorrência ameaça espalhar, de um lado, a estressante sensação de impotência. E de outro, a insinuar descabidas sugestões, tipo armar professores. Emerge, com incomodo vigor, uma verdade indigesta: a sociedade, como um todo, anda desorientada. E esse difuso desencontro existencial se reflete na vida de jovens e adolescentes, sensíveis e sugestionáveis por natureza. Dói e aflige ver jovens matando e se matando, justamente numa fase de vida quando, em tese, eles estariam cheios de vida e esbanjando otimismo.
Urge decifrar o contexto com serenidade e discernimento. Influências negativas e bullying sempre existiram. Intolerâncias e insultos entre colegas em sala de aula não são ocorrências recentes. Seria simplório demais querer explicar esse tipo de chacina alegando bullying. Psicólogos e educadores, inclusive religiosos, há tempos vêm alertando a respeito de um sutil dado comportamental. Pais e filhos estão se distanciando. Cuidam os pais, sim, do material. Providenciam alimento e vestuário, investem no estudo. Amam os filhos, sem dúvida, mas nem sempre sabem externar esse afeto. Delegam a educação a terceiros, inclusive a formação religiosa, julgando-se isentos da obrigação de acompanhar e participar efetivamente do processo formativo. Adolescentes e jovens demandam, além de livros didáticos, tempo e atenção. Conversas francas e frequentes, descontrações lúdicas e disciplina equilibrada são tarefas de casa indispensáveis. Ao contrário do que se imagina, quando criteriosamente disciplinado, o jovem intimamente se convence que é considerado e valorizado. Que é amado, em suma. Mesmo quando exteriormente demonstre rebelião e reclama independência. Educar é enunciar princípios e valores com convicção. Diferente de autoritário, que normalmente abusa da força e explora o medo, o educador convicto repassa seus valores pela coerência entre o discurso e a integridade da conduta. Ao abdicar da responsabilidade ou omitir-se, os pais franqueiam a entrada a outros desconhecidos tutores, com imprevisíveis consequências. Trágicas, inclusive.
O fácil acesso a informações diversas atiça curiosidades e, compreensivelmente, induz a ambíguos comportamentos. A estratégia inteligente para lidar com o pluralismo de informações não é bloquear acessos – inúmeras são as rotas de burla. Censura nunca foi vetor educativo. Fantasias e falsidades se combatem com verdades! Trevas se dissipam com luzes! É falso e cômodo achar que o perigo maior está nas distorcidas doutrinas compartilhadas em redes sociais. O maior perigo está no isolamento, no progressivo distanciamento do convívio familiar e social. Quando começa a ficar evidente a sistemática recusa de discutir ideias, de partilhar sentimentos, de não achar graça no convívio familiar, é o sinal de alerta que começa a piscar. A barragem ética começa a apresentar fissuras, o delírio está pronto a irromper! É hora de agir, com discernimento e decisão. Autoridade não admite vácuo! Educação, idem!
Trágicas são as consequências quando adolescentes e jovens se percebem órfãos de pais e educadores vivos. Paternidade responsável e educação integral são tarefas intransferíveis e incessantes!
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