
DISCERNIMENTO
Está difícil fazer escolhas! O acesso fácil a tantas ofertas, em praticamente todas as áreas da vida, impulsionado pelos incessantes e chamativos apelos de marketing, provocam no consumidor uma torturante aflição. As persistentes e invasivas mensagens propagandísticas reduzem drasticamente a possibilidade de o consumidor analisar a conveniência ou não de adquirir determinado produto. Ou seguir determinados códigos de conduta. A rapidez dos processos de mudança aliada à habilidade mercadológica transforma o processo de escolha em árdua e complexa aventura. Muitas das supostas necessidades não passam de veleidades supérfluas. Cai bem, neste cenário, a observação da mãe diante da aflição do filho jovem, indeciso quanto à camisa mais apropriada, entre as várias penduradas no guarda-roupa, a usar numa festa. Se tivesse somente uma, observa a mãe, não haveria problema! A anedota resume com precisão o drama do homem moderno: está ficando difícil escolher!
O grande desafio que se apresenta ao homem moderno é justamente saber fazer as escolhas certas. Em tempos de rápidas e profundas mutações como também de múltiplos e ruidosos apelos, aumenta consideravelmente a probabilidade de as escolhas serem feitas não tanto por convicção, mas por conveniência ou suscetibilidade. A mentalidade globalizante, com fina sutileza, impõe sobre o cidadão não somente padrões gastronômicos e estéticos, mas também códigos de conduta. Determina prioridades! E com tamanha ênfase que o cidadão nem percebe que pensa e se comporta segundo o figurino imposto por anônimos e interesseiros ‘tiranos’. Importam-se, sem perceber, sensibilidades e modos de relacionamentos. É-se induzido a agir desta ou daquela outra maneira, é-se insinuado a expressar-se assim ou assado, se quiser assegurar espaço na sociedade. A inclusão está sujeita a padrões globalizantes. Ao deixarem de ser pessoais e conscientes, prioridades e condutas tornam-se precárias e volúveis! Inconsequentes e frustrantes. O reflexo dessa mentalidade volúvel nas relações afetivas e interpessoais é previsivelmente angustiante. Razão para graves desilusões.
O mesmo fenômeno relativista encontra-se infiltrado igualmente na esfera religiosa. A projeção maciça de um modelo religioso induz as pessoas a conceber e viver a ‘fé’ segundo um padrão estabelecido. Ganha projeção uma expressão religiosa homogênea, impessoal e descaracterizada, ignorando culturas e equiparando confissões. Fica difícil distinguir entre fé e sentimento religioso! Repetidos mecanicamente, rituais e cultos passam a impressão de uma efervescente religiosidade, quando, na realidade, apenas exploram um sentimentalismo vago e estéril sem nenhum reflexo transformador no comportamento pessoal e coletivo. Esgota-se a religiosidade no canto, na coreografia, nas bênçãos. Ao confundir a fé com rezas piedosas ou rituais carregados de emoção, o crente permanece na superfície da espiritualidade, vulnerável diante dos imprevistos da vida e refém de ministros oportunistas. Imagina-se estar fazendo opção pela fé quando, na realidade, busca-se assegurar uma blindagem contra adversidades. Também na esfera religiosa está ficando complicado fazer escolhas certas.
Escolhas dependem de discernimento. Conceitos ambíguos e informações manipuladas resultam muitas vezes em escolhas equivocadas. O sábio Agostinho, com inteligente perspicácia e admirável precisão literária, retrata e resume o complexo processo do drama humano em fazer escolhas. Alerta: as coisas que não merecem ser amadas são as mais amadas e as que merecem ser mais amadas, são menos amadas! Escolhas dependem de discernimento!
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