sábado, 6 de julho de 2019

REFLEXO

Em Malta é possível contemplar um imponente fenômeno natural. Em época de lua cheia, sabendo escolher as colinas adequadas, é possível contemplar, mirando o oeste o pitoresco por do sol. Bola de intenso vermelho mergulhando, lenta e esplendorosa, no sereno azul do mar mediterrâneo. Quase que simultaneamente, virando o olhar para o leste, mira-se o sereno emergir da lua cheia, ainda num tímido vermelho, em busca do seu espaço no céu. Este majestoso fenômeno natural parece insinuar existir uma disputa entre os dois astros sobre qual seja o mais imponente! Disputa inconsequente, pois, sabe-se, que o brilho da lua nada mais é que o reflexo da luminosidade solar! A lua se dá por realizada por ser reflexo do sol. Sua glória é refletir a luminosidade do astro mor! Sem a luz solar não haverá brilho lunar. Esse interessante fenômeno natural sugere oportuna ponderação existencial. Embora sempre estivesse presente na história da humanidade, ultimamente vem conquistando espaço a doutrina que defende a emancipação humana do domínio divino. Adquire numerosos adeptos a mentalidade subjetivista. O ser humano reivindica independência na condução do próprio destino, sem necessitar de nenhuma interferência sobrenatural. O formidável avanço tecnológico colabora decisivamente para reforçar a concepção autônoma. De fato, o ser humano, graças à sua inteligente evolução, está ficando cada vez mais capacitado a vencer desafios, outrora incontornáveis, e melhorar sensivelmente as condições de vida. Apesar dos inegáveis avanços, algumas situações denunciam, contudo, sutis incoerências. Incompreensíveis absurdos! Na agricultura, para ficar somente em uma das áreas de produção, o domínio genético aliado ao cientifico cultivo da terra, amparado por eficiência tecnologia de colheita e distribuição, não consegue erradicar a terrível praga da fome! A persistente permanência da infame situação de fome denuncia graves desacertos! A eficácia na produção não é acompanhada por igual sensibilidade ética. A indiferença diante da situação de penúria de multidões se espalha na mesma proporção em que se avança tecnologicamente. Considerando o contexto geral, vê-se obrigado a concluir que o ser humano precisa de referências éticas caso queira coroar com legítimo êxito seus formidáveis avanços. Na ausência desse equilíbrio comportamental, as conquistas censuram mais que enaltecem. É deprimente para o ser humano, no presente estágio da evolução agrícola, conviver com a triste tragédia da fome, dizimando diariamente milhares de pessoas. Quando é seletivo, o progresso se torna injusto. Moralmente insultuoso. Uma sociedade pode se considerar genuinamente progressista quando todos os cidadãos se beneficiam satisfatoriamente dos avanços alcançados. Isto nada tem a ver com ideologia! É justiça social! E, no contexto cristão, evoca a caridade solidária! Assim como a lua brilha graças à luminosidade que recebe do sol, o ser humano alcança sua verdadeira glória quando reconhece ser reflexo da justiça divina. Quanto mais luz aceita receber de Deus, mais luminosas ficam suas conquistas. Deus não rivaliza com o ser humano! Nem quer roubar-lhe sua dignidade e distinção. Em nada se diminui a independência humana ao aceitar reger-se pelas ordenanças divinas! Ao contrário, mais livre e mais digno se torna ao orientar os avanços tecnológicos pela caridade solidária! Reflexo de Deus é o ser humano!

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