sábado, 5 de outubro de 2019

ENCONTRO SEMPRE NOVO

Estatísticas apontam evasões. Embora se faça sempre necessário filtrar e comparar informações, emerge como fato indiscutível a redução na frequência de fiéis nas missas dominicais. Difuso fenômeno que obriga autoridades eclesiásticas a debruçar-se sobre as possíveis causas para esse preocupante fenômeno. Dada a universalidade da ocorrência é interessante garimpar reflexões e reações. Preservando a peculiaridade de cada região ou nação, salta um dado que serve como denominador comum para a preocupante situação: a liturgia dominical perdeu o seu atrativo. Fiéis de várias idades não se sentem mais motivados a participar das missas dominicais. Alegam alguns uma liturgia antiquada, repetitiva, sonolenta. Outros jogam a culpa em padres cuja pregação é considerada medíocre, distante da realidade. É preciso reinventar a liturgia, receitam alguns reformadores. Na ânsia de atrair, especialmente, a geração mais jovem, alguns se lançam entusiasticamente a explorar emoções e sentimentos. Cantos mais ritmados e barulhentos, coreografias mais desinibidas têm, de fato, revertido a tendência em algumas localidades. Inegável é a influência da música no ritual religioso, em especial, quando se entende que o canto constitui elemento essencial na liturgia. Reduzir, no entanto, a revitalização da liturgia à renovação de repertórios musicais ou à inserção de danças parece indicar erro de foco. Ritos, vestimenta, cantos integram o culto, em vista, porém, do essencial que é o encontro com as Pessoas Divinas e a consequente renovação de vida tanto no campo pessoal como coletivo. Elemento essencial no culto dominical católico é a proclamação da Palavra de Deus! Não há missa, sem a proclamação da Palavra! Um paradoxo curioso emerge: na reforma litúrgica promovida pelo Conc.Vat.II, os católicos, num ciclo de três anos, têm acesso aos mais importantes textos do Livro Sagrado. Afirma-se com consciente tranquilidade, não existe nenhuma outra confissão religiosa cristã que proporciona a seus fiéis acesso tão amplo e tão prático à Palavra de Deus! No entanto, é aqui que surge o paradoxo, o católico, em geral, ainda não aprendeu a dar a devida importância a esse ritual da missa. Valoriza mais a homilia do celebrante que o texto bíblico propriamente dito, como se a palavra do padre fosse mais importante que a Palavra de Deus. É urgente resgatar a importância da escuta da Palavra, caso se queira aproveitar da valorosa renovação efetivada na liturgia. Necessário se faz renovar a fé na força intrínseca da Palavra que, a semelhança da chuva, nunca cai do céu sem produzir frutos! Educar o católico a enxergar na proclamação da Palavra oportunidade primordial para conhecer o pensamento divino. O católico habitou-se, corretamente, a reverenciar a Eucaristia, mas ainda não aprendeu a valorizar adequadamente a importância da Palavra de Deus proclamada em assembleia. Tanto a Eucaristia como a Palavra proclamada é Cristo Jesus que se entrega e se reparte entre os fiéis. Com o mesmo amor com que se faz Pão, Jesus se faz Palavra para ser ouvida, meditada, partilhada e vivida. Recuperar esta dimensão de encontro com Jesus na Palavra proclamada, representa, sem sombra de dúvida, um salto precioso de qualidade em nossas celebrações. Basta lembrar as multidões que, enfeitiçadas, acorriam para ouvir Jesus falar. Reconheciam o evangelho nas palavras de Cristo. Notícia boa que responde aos mais profundos anseios da alma humana. Muito mais que um ritual repetitivo, a Missa é encontro redentor, sempre novo, com o Filho de Deus que se doa, por amor, sob as formas da Palavra e do Pão!

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