
Tensões provoca esse sínodo! Desde que foi convocado em 2017, pelo Papa Francisco, atendendo a incessantes apelos do episcopado local para que a Igreja se debruce e avalie, com caridade pastoral e máxima objetividade, a dramática situação dos povos amazônicos, o sínodo vem provocando acalorados debates. No campo diplomático, alguns governos sentem-se incomodados com a assembleia eclesiástica, pressentindo possíveis ingerências em suas políticas internas, mormente as relacionadas com o meio ambiente. Chegam a acusar, leviana e tendenciosamente, a Igreja de estar em busca de hegemonia política e vantagens financeiras! A motivação principal do sínodo é eminentemente pastoral. Não se descartam, todavia, observações e censuras relacionadas ao meio-ambiente, uma vez ser impossível promover a vida integral dos povos amazônicos sem considerar o impacto da devastação por que passa o bioma nativo.
Estranhamente, o sínodo anda provocando também fissuras internas na Igreja. Particularmente, a partir do documento conhecido como Instrumentum laboris – espécie de manual a orientar os trabalhos. Importante ressaltar a abordagem que orientou a elaboração do manual. O papa quis que a matéria-prima a alimentar e a orientar o debate fosse a realidade objetiva da região. Buscou-se, então, coletar o maior número de observações e reflexões de gente que mora ou está diretamente envolvida com a vida na Amazônia. Realizou-se um intenso e cuidadoso trabalho de escuta, somando mais de 90.000 depoimentos! Não se pode querer oferecer contribuições que sejam realmente substanciosas sem, primeiro, ouvir o que essa gente tem a dizer, sem considerar quais as necessidades que sente, que dificuldades enfrenta. Emergiram, então, observações pertinentes quanto à precariedade na administração de sacramentos, quanto à linguagem litúrgica, quanto à valorização do trabalho missionário realizado por mulheres. Inseridos no manual de trabalho, esses apelos provocam apreensões em alguns setores internos da Igreja, contrários a mudanças estruturais. Bispos e teólogos renomados se opõem à possíveis mudanças sugeridas, como por exemplo, a ordenação de homens casados ou a um maior espaço para mulheres no exercício de alguns ministérios. Estabelecida está a tensão entre correntes mais ortodoxas e outras mais pastorais que percebem a urgência de ampliar horizontes, caso se queira que a Igreja, de fato, cumpra seu mandato missionário. Observa-se, com muita propriedade, que a maioria dos chamados ortodoxos nunca sequer chegou perto da região para sentir suas reais necessidades. Até que ponto seja correto opinar sobre algo que não se conhece! Evocam-se as emocionadas, e sentidas, contribuições das mulheres pastoralmente engajadas na região. Em um bom número de comunidades, são as mulheres que tomam a frente e animam as celebrações. Como não reconhecer esse protagonismo? Como não estender a elas faculdades ministeriais? Vale reproduzir humoroso, e sarcástico, comentário registrado pelas nativas: realizamos todo trabalho, mas não somos convidadas a nos sentar à mesa!
Compreende-se a tensão que emoldura o sínodo! Enaltece-se a pastoral coragem do Papa Francisco em provocar o debate e buscar pastorais soluções para um agudo desafio. Pautada pela dinâmica da escuta, a organização do sínodo cuidou de convidar ainda lideranças evangélicas que atuam na região, como também cientistas e climatologistas renomados, independentemente de convicções religiosas. Esforço formidável, ecumênico e ecológico, no intuito de oferecer ao povo da Amazônia condizente resposta à seus mais profundos anseios! Ora-se pelo êxito do sínodo!
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