sábado, 4 de julho de 2020

MASCARADA

Nosso Senhor Jesus Cristo censura máscaras! E com veemência. Suas mais duras críticas são direcionadas contra pessoas que, no seu tempo, escondiam-se atrás de máscaras – os fariseus e os doutores da Lei. Para definir essa turma, Jesus recorre a um termo originário do teatro grego, hipócrita. O hipócrita era o ator que, por ofício, representava personagens no teatro. Por isso, usava máscaras para facilitar a identificação do personagem. O vocábulo passou, então, a indicar tipo de pessoas falsas, gente que representa, pessoas que passam uma imagem de si que em nada corresponde à vida real. Ao identificar os fariseus como mascarados, Jesus denuncia sujeitos falsos e, por extensão, uma religiosidade dissimulada. Sendo esse grupo de considerável influência na vida do povo, a religiosidade que ensinavam representava graves desvios. Para esse grupo, importava exibir-se como religioso. A distinção se resumia na observância externa das normas. Em suma, enorme prestígio garantia o disfarce! Jesus opõe-se veementemente contra esta religiosidade dissimulada e alienante. Lembra com insistência que Deus olha preferencialmente o coração e não se deixa enganar por aparências. Seus verdadeiros adoradores O adoram em espírito e em verdade. Máscaras não comovem o Criador! O alcance dessa advertência ultrapassa, evidente, a fronteira religiosa. Estende-se a todas as esferas da vida. Nestes tempos sofridos, quando o uso de máscaras protetoras passou a integrar o modelito convencional, vale parar e analisar a coerência de nossas condutas. Vestir a máscara com responsabilidade representa a consciência de zelar pela saúde do outro e pela própria. O atual protocolo se complementa ainda pelo social distanciamento e pela constante higiene. Usar máscara e persistir em frequentar, sem necessidade, locais de aglomeração sugere hipocrisia. Usar máscara e continuar a descuidar da higiene pessoal sinaliza dissimulação. Recai-se no pecado social da falsidade. Ampliando o raciocínio, usar máscaras sem se envolver com problemas sociais mais profundos aponta, igualmente, para um alienante expediente. Comprovado está que o maior número de vulneráveis nesta pandemia se encontra nos rincões mais desassistidos e entre as classes mais pobres. Nessas áreas, além da escandalosa ausência de básicos serviços de esgoto e de tratamento de água, a população enfrenta enormes dificuldades ao procurar assistência ambulatorial, que dirá médica! O agudo desnível social permanece infame e impor o uso de máscara nestes ambientes e para esta gente é de um cruel cinismo e de um desumano desaforo. A sociedade ‘civilizada’ tem se mostrado generosamente compassiva. Enaltecem-se as múltiplas iniciativas humanitárias e assistenciais. Essas campanhas, contudo, não podem esgotar a sensibilidade humana. Evidente está que a pontual solidariedade assistencial, por mais urgente e imperiosa, é insuficiente. É preciso desenvolver mentalidades e políticas solidárias, estruturais e perenes. Urge ampliar o horizonte e patrocinar uma mobilização genuinamente cívica, e cristã, a exigir que se enfrentem e que se eliminem as calamitosas situações de miséria e de descaso a que são reduzidos milhões de cidadãos. Superada a Covid-19, essa gente continuará vulnerável diante de inúmeros outros vírus! Enquanto se insiste, corretamente, em usar máscaras faciais, a sociedade ‘do bem’ precisará despir-se da infame máscara da indiferença. É mais que hora dessa sociedade cultivar mentalidade solidária, abrangente e envolvente. A única em condições de lhe garantir proteção não apenas contra a pontual pandemia, mas, principalmente, contra a perene e vexatória condenação de hipócrita, mascarada!

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